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sábado, 5 de maio de 2012

Filme: Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios

O problema de "cair no mundo" é que as feridas podem nunca cicatrizar satisfatoriamente.

É uma das conclusões tiradas ao assistir o filme Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios (2012).

Filme dirigido por Beto Brant e Renato Ciasca, baseado em um livro de Marçal Aquino, roteirizado pelos diretores com a ajuda do próprio autor.

Cauby (Gustavo Machado) é um fotógrafo que chega a uma cidade ribeirinha do Pará e acaba se envolvendo sexualmente com Lavínia (Camila Pitanga), mulher do pastor evangélico idealista Ernani (Zé Carlos Machado).

O problema é que esse simples envolvimento acaba se tornando algo mais forte e o relacionamento acaba atingindo a vida dos três personagens de forma implacável.

Todo artista tem sua musa.

Elas são consideradas a fonte de inspiração de toda obra de arte.

É desde os tempos antigos que se fala na figura delas. Enquanto na Grécia elas eram filhas de deuses, nos tempos atuais podem assumir a figura de qualquer coisa (ou pessoa) que inspire.

É isso que define, a princípio, o relacionamento de Cauby e Lavínia.

O jeito como ele exibe pra si mesmo as fotos dela em seu casebre, endeusando uma figura com um passado misterioso (o qual descobrimos depois de um tempo de filme), estabelece o tom de dependência-obsessão-amor entre a musa e o artista.

Com atuações elogiosas de Gustavo Machado, como o fotógrafo, e de Zé Carlos Machado, como o pastor, o destaque do filme vai mesmo para Camila Pitanga, cuja composição perfeita transita entre calma e loucura com ótima desenvoltura. Sempre expressiva, sempre confiável. 

É notável, por exemplo, seu trabalho corporal ao assumir em cena do clímax os mesmo trejeitos que tinha quando foi mostrado seu passado numa bela desconstrução da “salvação” obtida anteriormente.
  
Vale também uma menção honrosa ao ator cearense Gero Camilo.
Ótimo como o colunista de fofocas Viktor Laurence, um homossexual no limite da afetação que passa longe de um estereótipo caricatural.

Ponto positivo para o ótimo trabalho de ambientação do filme, cuja fotografia abusa de tons solares, claros e bem definidos como que se quisesse que a musa inspirasse o próprio espectador. Isso se deve, é claro, ao fato do filme destacar a perspectiva do próprio Cauby, que acompanhamos boa parte do filme.

Outro dos prós (que também pode ser um contra para algumas pessoas) são as várias cenas de sexo filmadas de forma naturalista, bem no limite da realidade, inclusive com a nudez total da própria atriz, num ótimo exemplo de entrega ao papel.
Os autores aproveitam o filme para fazer uma espécie de panfletagem pró-indígena abusando de cenas que mostram o dia-a-dia dessas comunidades nas cidades modernas (uma realidade paraense) com várias tomadas aéreas de madeireiras que devastam a região amazônica. 

É claro que isso é feito de forma sutil e orgânica, válida como um gancho para explicar o destino final de um dos personagens, mas bem discernível ao espectador, mesmo não ocupando muito tempo de tela.

Um filme sobre o amor e sobre a obsessão.

Sobre como eles nos destroem e nos constroem novamente em igual proporção. 

Tudo isso mostrado através das relações de Lavínia, incapaz de tomar uma decisão, já que depende de seus dois amantes por motivos totalmente opostos.

E como essa incapacidade de decidir pode acabar sendo atropelada pela urgência da vida.

Recomendado.

Valeu!

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