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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Filme: O Espião que Sabia Demais

Pode haver mais segredos e conspirações entre os integrantes de uma agência de espionagem do que fora dela.

É o que se conclui ao final de O Espião Que Sabia Demais (Tinker Tailor Soldier Spy, 2011) novo filme do diretor sueco Tomas Alfredson, cujo último trabalho, o drama vampírico Deixa Ela Entrar (do qual já falei aqui), lhe abriu as portas para as grandes produções hollywoodianas.

Inglaterra.
Início dos anos 1970.
Em plena guerra fria, o chefe da inteligência britânica, Controle (John Hurt), é obrigado e se demitir após uma operação mal-sucedida em Budapeste e leva com ele o agente veterano George Smiley (Gary Oldman), que é resgatado do ostracismo por um velho conhecido para investigar secretamente a suspeita de que um dos quatro integrantes do alto escalão do serviço de espionagem inglês estaria passando informações sobre operações britânicas para a então União Soviética.

John Le Carré
O roteiro, escrito por Bridget O´Connor e Peter Straughan, é uma adaptação de um livro do autor inglês John Le Carré e tem a missão de apresentar pra toda uma nova geração os complexos e realistas espiões do escritor.

Um autor best-seller que fez sucesso escrevendo tramas de espionagem nada superficiais, ao contrário de contemporâneos como Ian Fleming (criador de um tal James Bond), temperadas pelo seu conhecimento dos bastidores dos serviços de inteligência, a qual diz ter frequentado em sua época de diplomata no início dos anos 1960.

Não é um filme de ação, muito pelo contrário. A ação existe, mas de forma bastante pontual e inusitada em duas ou três cenas. A história meio que demistifica os agentes secretos de cinema e transforma-os em pessoas reais, inseguras, falhas e incapazes de lidar com a vida pessoal.

A trama do filme segue os passos de Smiley, que seguindo os passos de Controle tenta descobrir a identidade do traidor, entrevistando ex-colegas e agentes de campo, além de tentar descobrir o porquê do fracasso da missão que levou a sua própria demissão do serviço.

Smiley, personagem que aparece em outros romances de Carré, é mostrado como se fosse um inofensivo e leal seguidor de regras no início da película, mas vai crescendo em profundidade psicológica, inteligência e determinação assim que os bastidores da trama e de sua vida pessoal são revelados.

O filme se torna rico em cenas sem diálogo que mostram a complexidade de personagens em gestos, olhares e comportamentos, a princípio contidos para só então revelar a importância que eles detém. 

Por exemplo, a cena em que Smiley fita um quadro na parede em sua casa vazia só tem sua importância revelada no final, quando se explica de onde o quadro veio.

É nesse vai-e-vem de tempos narrativos que a trama se constrói tendo algumas cenas-chave (como a da missão em Budapeste e a da festa de fim de ano) revisitadas a todo momento de diferentes perspectivas que revelam mais sobre o verdadeiro motivo da demissão de Smiley, do fracasso do seu casamento e da identidade do traidor da agência.
A produção, finíssima, reconstrói o clima dos anos 60 e 70 com exatidão milimétrica, tanto no uso de roupas de época quanto de carros, fitas de rolo e até bloquinhos de anotação, importantíssimos numa era pré-computador pessoal.

A trilha sonora completa esse pacote com perfeição nos inserindo num clima de boas séries e filmes de espionagem da época. Fica até difícil acreditar que o filme foi feito em 2011.

É claro que a narrativa se torna atemporal, pois na essência trata de relações de confiança tanto na vida pessoal quanto no local de trabalho.

Mesmo sem ação, as reviravoltas e revelações da trama conduzem o espectador a um final inteligentemente orquestrado, mas que pode se tornar inesperado para quem não está acostumado a filmes do tipo.

O destaque de atuação vai mesmo para Gary Oldman que interpreta um Smiley metódico e extremamente profissional, mas que não se furta a emoção em gestos e olhares pontuais e cheios de significados. 

Sua olhar de curiosidade num semblante frio enquanto observa um colega chorando por ter sua traição descoberta, por exemplo, revela muito sobre a motivação do personagem.

Um ótimo filme de espião, que reproduz o clima de insegurança da guerra fria, trabalhando relações de confiança e traição de maneira orgânica com reviravoltas que não devem nada a James Bond e outros personagens do tipo.

Recomendado.

Valeu!

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