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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Filme: As Aventuras de Tintin

Diz a lenda que em 1981, quando lia críticas do seu lançamento Os Caçadores da Arca Perdida (o primeiro filme de um tal Indiana Jones), o diretor Steven Spielberg viu sua película ser comparada a histórias de um jovem jornalista que teve origem em quadrinhos franco-belgas, o intrépido e viajado Tintin.

Hergé
Com 23 álbuns produzidos pelo belga Hergé (pseudônimo do quadrinista Georges Remi), o aventureiro personagem, criado em 1929, aquela altura já havia sido traduzido para 40 idiomas diferentes, além de ter estrelado dois filmes e uma animação para o cinema europeu. Apesar disso, Steven Spielberg e a maioria dos americanos, não o conheciam.

O diretor tratou de remediar isso e dois anos mais tarde, se dizendo apaixonado pelos quadrinhos, iniciou negociações com o próprio Hergé para levar o personagem ao cinema. 

O quadrinista, extremamente animado com a perspectiva de seu personagem finalmente fazer sucesso nos EUA, haveria lido o contrato de licenciamento enviado pela produtora e só não assinou por uma causa, ou melhor, uma cláusula que dizia que Spielberg poderia passar a responsabilidade pela direção do filme a outra pessoa se assim quisesse.

Hergé, as vésperas de completar 76 anos de idade, queria que Spielberg dirigisse o filme, mas faleceu meses mais tarde, antes do diretor rever o contrato. 

E foi só mais de 20 anos depois Spielberg retomou as negociações com a viúva do quadrinista para finalmente começar a produção de As Aventuras de Tintin, filme que mescla animação com a mais moderna tecnologia de motion capture (a mesma usada no filme Avatar), que estreou mundialmente em janeiro de 2012 e apresenta o personagem para toda uma nova geração. 

Tintin (voz e trejeitos de Jamie Bell) é um jornalista investigativo de renome que, ao comprar uma réplica miniatura de um navio do século XVII numa feira de rua, se vê envolvido numa caça ao tesouro de um antepassado do dramático e bonachão Capitão Haddock (voz e trejeitos de Andy Serkis), encabeçada pelo malvado Sakharine (voz e trejeitos de Daniel Craig). 

Com a ajuda do sempre fiel cãozinho Milu e dos atrapalhados detetives Dupond e Dupont (vozes e trejeitos de Nick Frost e Simon Pegg) eles viajarão até o Marrocos, passando por tempestades marítimas, naufrágios no deserto do Saara e perseguições alucinantes para descobrir o segredo do navio Licorne.

Spielberg mostra sua assinatura como um grande cineasta dirigindo seu filme mais divertido em muito tempo.


Jamie Bell e Spielberg
Sua habilidade de gerenciar fatores tão diversos quanto atuações em frente a tela verde (o jeito que o filme captou os gestos dos atores), inserções sonoras, renderizações 3D e, principalmente, engenhosos posicionamentos de câmera, se mostra resultado da mistura de uma grande experiência acumulada na sua estrelada carreira com as infinitas possibilidades que um filme em computação gráfica pode gerar.

Isso pode ser comprovado na emoção que o filme passa tanto nas sequências de perseguição (como a centrada no cãozinho Milu no início do filme e na envolvendo vários personagens na metade final), nas lutas no navio pirata (uma homenagem aos filmes de capa-e-espada que deixa Piratas do Caribe no chinelo) e na sequência final no cais do porto (com uma engenhosa luta de guindastes).

Ele também se mostra inspiradíssimos nos raccords por analogia (cenas de passagem em que um elemento de uma cena se transforma em outro na cena seguinte) utilizados no filme, como as dunas do deserto se transformando em mar revolto nas lembranças/delírios do Capitão Haddock, e também com a transformação das dunas na mão de um personagem em uma sequência posterior.
Sua utilização do ponto de fuga, situando objetos e movimentos importantes a narrativa exatamente na convergência de linhas de profundidade no desenho (técnica inventada por pintores no Renascimento e adotada por cineastas inteligentes) revela muito de sua postura sobre o filme, trabalhado a película como se fosse uma pintura.

O roteiro, escrito a seis mãos pelos ingleses Joe Cornish, Steven Moffat (da série de TV Dr. Who) e Edgar Wright (roteirista e diretor do filme Scott Pilgrim Contra o Mundo), adapta para a telona a trama de dois dos álbuns de Hergé: O segredo do Licorne e O Tesouro de Racham, o Terrível, além de mesclar passagens de um terceiro álbum, O Caranguejo das Pinças de Ouro.

A homenagem e respeito ao criador do personagem são claros em todo o filme.

Em especial na sequência de abertura, com uma animação de silhuetas que faz referências a vários álbuns da série e na cena inicial em que o próprio Hergé aparece como um caricaturista de rua pintando o rosto de Tintin igualzinho ao dos quadrinhos. Uma grande apresentação e transposição do personagem para o estilo quase realista do filme.

O filme se caracteriza também, em sua parte cômica, por prestar homenagens a um tipo de humor antigo, bem mais inocente e centrado em gags físicas típicas de fases áureas dos Trapalhões ou de filmes mais antigos ainda como os estrelados por Charlie Chaplin e Buster Keaton. É um tipo de humor raro de encontrar atualmente em produções pro cinema ou TV, mas que ainda encantam crianças e adultos com disposição de ir ao circo e se encantar com o tão subestimado personagem do palhaço.

Dupont e Dupond
Aliás, os próprios quadrinhos utilizam desse tipo de recurso inocente pra criar seus alívios cômicos, principalmente na figura dos detetives Dupond e Dupont.

Ponto positivo pra equipe do filme por não se preocupar em atualizar o personagem ou mesmo situar suas aventuras em determinada época, deixando suas interações anacrônicas, podendo se ligar a qualquer período.

Não dá pra deixar de esboçar um sorriso quando Tintin diz que sabe o melhor jeito de pesquisar a história do navio e vai direto a uma biblioteca e não digitar no Google.

Necessário dizer também que um dos grandes responsáveis pelo filme foi nada mais, nada menos que Peter Jackson, o diretor responsável pela trilogia Senhor dos Anéis, assumindo aqui a tarefa de produzir o filme ao lado de Spielberg e, eventualmente, ser o diretor de segunda unidade da equipe do filme.

Jackon já declarou inclusive que trocará de lugar com Spielberg na continuação (já confirmada) do filme.

Personagens extremamente cativantes, que já encantaram várias gerações em quadrinhos e TV, apresentados a uma nova geração de um jeito belíssimo e extremamente digno, sem perder em nada de sua essência original é o que esperar de As Aventuras de Tintin.

É Steven Spielberg se superando como não fazia há muito tempo.

Recomendadíssimo!

Valeu!

2 comentários:

André disse...

Gostei muito do filme, acho que a última vez que tinha me divertido tanto foi assistindo Avatar. Me deu vontade de ler as revistas do Hergé.

• Ӗwerton Ľenildo. disse...

Esse filme parece ser muito bom hehe :D Com certeza vou ver ainda esse ano (; Meus parabéns pelo post, está perfeito *__* Deu para saber tudo sobre o filme, só falta agora, eu, assistir. haha
Estou seguindo o Blog, sem medo \õ
Visita e segue o meus e gostar também? Sinta-se convidado hoho
Sucesso SEMPRE, abração.

Ewerton Lenildo - Academia de Leitura
papeldeumlivro.blogspot.com
@Papeldeumlivro

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