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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Livro: Frente de Tempestade - Os Arquivos Dresden Vol.1

Num universo onde a magia existe, mas é ignorada pela maioria das pessoas, um bruxo chamado Harry tem que procurar e confrontar um bruxo praticante de magia negra para salvar seus amigos, sua comunidade e sua própria vida.

Não, a sinopse acima não foi escrita como referência a mais um volume de Harry Potter.

É a sinopse mais simples que consegui fazer do romance de estréia do escritor americano Jim Butcher, Frente de Tempestade (322págs, 2011), publicado nos EUA no ano de 2000 e que está a venda desde junho desse ano aqui no Brasil pela Editora Underworld.

Harry Dresden é o único bruxo particular listado na lista telefônica com escritório na cidade de Chicago nos EUA. Como poucas pessoas no mundo acreditam em magia, ele não tem muitos trabalhos a vista, e vive com pouco dinheiro no bolso. Eventualmente, ele dá consultoria para a polícia em casos que não tem muita explicação lógica, o que ajuda bastante a pagar o aluguel. 

Até o dia em que uma série de assassinatos, em que as vítimas têm o coração explodido misteriosamente dentro do peito, o colocam na mira de mafiosos, vampiros, repórteres, traficantes de drogas, demônios e fiscais do conselho branco de magia. Tudo isso por causa de um misterioso e poderoso bruxo praticante de magia negra que dará trabalho para ser identificado e encontrado.

Narrado em primeira pessoa, livro pode ser descrito como uma mistura de romance de detetives e fantasia contemporânea.

O clima detetivesco/noir se faz presente em vários clichês do gênero como a narração irônica de Dresden, suas condições cada vez piores de trabalho, o descrédito e crescente desconfiança dos outros personagens para com ele, seu rígido senso moral, sua facilidade em se dar mal e as constantes (mas bem embasadas) reviravoltas na trama. Até mesmo a mulher problemática a procura do marido e um casaco-sobretudo inseparável para o personagem se fazem presente na narrativa.

É claro que esses clichês são apenas o fio-condutor da história, que surpreende por conseguir integrar organicamente elementos fantásticos bastante estranhos ao universo de tramas de detetives como fadas, poções, amuletos, espíritos elementais, artefatos mágicos e manipulação de elementos naturais a um cenário quase que estritamente urbano. 

Tudo isso aparece na trama de forma bem natural e é o maior mérito do autor Jim Butcher. Mérito esse que deveria ser o almejado por qualquer autor: construir uma lógica própria e consistente pro seu universo narrativo. Os elementos mágicos, por exemplo, são explicados com teorias de manipulação energética, tornando o sobrenatural, senão verossímil, pelo menos bastante aceitável.

A trama também decorre de forma bastante rápida e a narrativa faz a leitura fluir muito bem.

Sendo apenas o primeiro volume de uma série com 13 livros públicos até o momento nos Estados Unidos, o livro apresenta uma história completa que serve de apresentação do universo do personagem Harry Blackstone Copperfield Dresden, filho de um ilusionista e nomeado pelo pai em homenagem aos maiores ilusionistas da história. 

Assim como esse, vários elementos do passado do personagem são citados e provocam no expectador aquele gostinho de quero mais. Esse pode ser um dos defeitos da narrativa, que estabelece Harry como personagem verossímil com várias características contraditórias inerentes aos seres humanos, mas é superficial em detalhar suas motivações pra fazer o que faz. É claro que isso pode ser uma simples estratégia pra nos fazer comprar o próximo livro.

Dresden é um personagem fascinante, pois mesmo estando sempre na pior, não abandona seu rígido código moral, que o faz ser cavalheiro com as mulheres e tentar não desobedecer as leis da magia estabelecidas pelo conselho branco. Mesmo assim o rígido Morgan, fiscal do conselho, está sempre na sua cola.

Uma ressalva a essa primeira edição brasileira são os constantes erros tipo: “comoque nem” e “estoutô” encontrados várias vezes durante o volume. Como se o tradutor tivesse deixado como opção para o editor revisar e o editor tenha deixado passar.

Erros até perdoáveis devido a qualidade da trama e a pouca experiência da editora Underworld no mercado, mas que não seriam recomendáveis em novas edições e em futuros volumes da série.

O sucesso da série lá fora deu origem a áudio-livros, vídeo-games, quadrinhos e uma série de tv em 12 episódios exibida pelo canal Sci-fi na temporada 2007.

Uma trama de magia fantástica com ares urbanos contemporâneos tendo como fio-condutor um mistério de assassinatos e o clima noir de romances detetivescos, cheia de ação e reviravoltas surpreendentes e com um personagem fascinante é o que esperar desse livro.

Recomendado!

Valeu!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Quadrinhos: Daytripper

O que seria da existência sem os contrastes?

Não daríamos valor a luz das estrelas se não fosse a escuridão. Ao lazer se não fosse o trabalho. Ao chocolate se não fosse o morango. Aos momentos felizes se não fossem os tristes. À vida se não fosse morte.

É por esses contrastes que passeia Daytripper (258 pág., 2011) a última obra em quadrinhos dos gêmeos paulistas Fábio Moon e Gabriel Bá, publicada primeiro lá fora numa minissérie em 10 edições pela VERTIGO, o selo de quadrinhos adultos da editora americana DCComics, e que só agora chega aqui em terras brasileiras pela Panini editora. 

Brás de Oliva Domingos é um escritor de obituários com aspirações a grande literatura que vive a sombra do sucesso do pai, um escritor multipremiado e membro da academia brasileira de letras.

Em cada uma das dez histórias somos apresentados a momentos importantes da vida de Brás como o nascimento do filho, as férias de infância com os avós, a viagem pela Bahia com o melhor amigo, o dia que conheceu a esposa e vários outros. 

Contada de forma não-linear, cada capítulo é nomeado com a idade que Brás se encontra e pontuado, num ótimo emprego de realismo fantástico, pela morte do personagem após momentos de alegria ou mesmo de tristeza.

Abordando um tema específico como família, amor, amizade, trabalho, em cada um deles, sempre de um jeito diferente, subvertendo todas as expectativas. 

A obra merece a quantidade de prêmios que vem ganhando atualmente nos EUA e tem muitos méritos que justificam isso. Um deles é causar a identificação imediata através da descrição de episódios que poderiam estar na vida vários leitores.

Os gêmeos continuam afiados nos textos trabalhando de forma poética temas comuns como idas ao sítio, encontros românticos na padaria e até assaltos no botequim. 

Melhoraram bastante na arte, principalmente nas expressões genuínas dos personagens, nos detalhes dos cenários e ao retratar pontos turísticos da Bahia e de São Paulo

Na verdade, toda a caracterização da obra merece destaque. 

Brás, por exemplo, é a cara do cantor e compositor Chico Buarque

E a Bahia representada consegue se apresentar ao mesmo tempo de forma mística e verossímil tendo todas as idiossincrasias dos textos de Jorge Amado

Sem falar nas cores aquareladas que dão um toque todo especial ao sentimento de poesia cotidiana da história. Sem dúvida feita pra emocionar.

Dá até orgulho de ser brasileiro ao ver uma história totalmente produzida por autores nacionais ganhando três dos principais prêmios de quadrinhos nos EUA agora em 2011. Orgulho que não vem só da inegável qualidade da obra, mas pelo fato dela representar tão bem o Brasil.

Moon e Bá, avessos a super-heróis desde o início, começaram a carreira profissional há mais de 10 anos publicando de forma independente o fanzine em quadrinhos 10 Pãezinhos em São Paulo (que já rendeu 5 álbuns por grandes editoras).

Hoje, depois de vários prêmios por aqui que lhe renderam contatos e incursões ocasionais (e premiadas) no mercado americano, mostram que o Brasil pode fazer diferença nos quadrinhos dos EUA não só pela habilidade do traço, mas também nos roteiros.

A vida é feita de escolhas e Brás faz todas elas, algumas certas, outras erradas, e acaba construindo uma trajetória tão particular quanto fascinante.

Uma bela história sobre contrastes que pontua com realismo fantástico os sonhos, as aspirações e os episódios da vida cotidiana de um sujeito comum, com o maior mérito de transformar o mundano em poético.

Recomendadíssimo!

Valeu!
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