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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Quadrinhos: Hellblazer - Pandemônio

John Constantine é um verdadeiro filho da p#$@. 

Politicamente incorreto, fumante inveterado, beberrão, ardiloso, zombeteiro, cheio de lábia e manipulador são alguns dos adjetivos comumente atribuídos a ele que é o anti-herói por excelência.

Dono de um passado que envolve a liderança de uma banda de Punk Rock, invocações de demônios mal-feita, uma visita involuntária ao inferno, dois anos de internação num hospício e perda de vários amigos pra uma maldição, Constantine vive tendo que aplicar seu conhecimentos das artes arcanas acumulados em todos esses anos pra tirar amigos de enrascadas ou salvar a própria pele.

Criado por Alan Moore (V de Vingança, Watchmen) em 1985 pra ser coadjuvante numa nova fase do Monstro do Pântano, o mago inglês (idealizado com a cara do cantor Sting) viria a ganhar revista própria alguns anos mais tarde.

Os 23 anos de publicação da revista mensal (na edição 278 nos EUA) pela DcComics americana comprova o sucesso do personagem que já teve publicados vários especiais, minisséries e participações que fez em outros quadrinhos ao longo dos anos. Sem falar no filme de 2005, estrelado por Keanu Reeves.

Arte de Rick Veitch em 1985
Junto com o Monstro do Pântano de Alan Moore e o Sandman de Neil Gaiman foi um dos que ajudaram a fundar o selo VERTIGO (de quadrinhos adultos) da editora em 1993.

É óbvio que com tantas edições e histórias, existem várias fases diferentes do personagem dependendo da equipe criativa por trás dele, mas algumas características são mantidas.

As principais são seu inseparável sobretudo (ou capote) e o fato de John recorrer a magia somente em último caso, preferindo depender de sua própria astúcia e charme pessoal para sair da maioria das situações na base da conversa. Mas é claro que nem sempre isso é possível.

Seu primeiro escritor na revista própria foi Jamie Delano que estabeleceu os principais pontos do passado sofrido do personagem tornando-o mais humano. É Delano que retorna agora numa história escrita pra edição especial de 25 anos do personagem lançada em março pela Panini editora aqui no Brasil.

John Constantine: HellBlazer – Pandemônio (132págs, 2010) é uma história completa que traz Constantine de visita ao Iraque após a Guerra do Golfo e a queda de Saddam.

Depois de um sonho premonitório com tanques de guerra, jogos de azar e mulheres com cabeça de leão, John encontra uma misteriosa muçulmana de burca (peça de roupa que só deixa visível os olhos) no metrô de Londres

Vai atrás dela e se vê envolvido num atentado terrorista. Descobrindo ser tudo um esquema do governo, John é ameaçado e mandado ao Iraque para ajudar no interrogatório de um prisioneiro.

Tudo porquê ninguém consegue ficar na mesma sala com o homem por muito tempo sem sofrer algum tipo de ataque de pânico involuntário com conseqüências bem nojentas. É quando John se vê no meio de um jogo entre demônios, D´jinns (gênios) e deuses sumérios esquecidos que pode custar sua vida.

O roteiro de Delano é bastante crítico e atual, tendo sucesso ao fazer John destilar comentários ácidos sobre a suposta segurança almejada pela constante vigilância imposta aos ingleses pelo medo após os atentados de 11 de setembro.

Uma ligação com o caso do brasileiro Jean Charles, morto por policiais londrinos ao ser confundido com um terrorista, por exemplo, pode ser feita.

A trama também promove o retorno de um demônio velho conhecido de Constantine, mas fica a dever na aparição das divindades sumérias que poderiam ser melhor aproveitadas (ou contextualizadas) por parte do autor, ou mesmo com um glossário por parte dos editores.

Delano também parece definir abertamente a idade do mago inglês (algo raramente feito com um personagem de quadrinhos tão duradouros) como algo próximo aos 60 anos (mas com corpinho de 40), ao contextualizar um flashback de sua infância no fim de década 1950. É bem provável que a editora reveja isso em pouco tempo já que o personagem não tem nenhuma previsão de cancelamento.

Os desenhos do escocês Jock (pseudônimo de Mark Simpson) são um caso a parte. Num estilo anguloso quase surrealista que lembra bastante Bill Sienkiewicz (artista de Elektra Assassina), Jock se destaca, entre outras coisas, pela divisão irregular de quadros na página que dão bastante dinâmica a narrativa. 

Sua escolha de cores que dominam ambientes e, as vezes páginas inteiras, são o ponto forte do álbum. Ajudando a criar e estabelecer os climas inóspitos dos lugares que John visita, desde o verde frio de Londres, passando pelo marrom claro e seco do deserto ao vermelho desesperador do inferno.

Uma boa história do personagem que mesmo sendo um filho da p#$@, ainda consegue estar no coração de muitos leitores por discutir temas relevantes como segurança, ética, guerra, tortura, responsabilidade social e vingança, demonstrando que o mago inglês desbravador do inferno (Hellblazer) ainda tem força pra mais 25 anos de sucesso.

Recomendado.

Valeu!
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