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sexta-feira, 28 de maio de 2010

Filme: Quincas Berro Dágua (2010)

O filme que chega aos cinemas agora em 2010, Quincas Berro Dágua, tem o roteiro escrito pelo diretor Sérgio Machado, que faz uma ótima adaptação, apesar não tão fiel, do texto do livro. 

Quincas (Paulo José) amanhece morto na manhã de seu aniversário. Todos os seus amigos o esperavam com uma festa surpresa na noite anterior, a qual ele não compareceu. Sua filha Vanda (Mariana Ximenes), que não o via há dez anos, é comunicada de sua morte e tenta com a ajuda dos tios e do marido Leonardo (Wladimir Brichita), dar ao pai um enterro decente. O problema é que seus atuais amigos, que estão no grupo das putas, cachaceiros e vagabundos, parecem ter seus próprios planos pra última noite com o cadáver.

O filme tenta expandir o universo do romance, dando mais importância a alguns personagens e muito mais ênfase ao lado humorístico da história.

Em especial esticando, por assim dizer, a última noite de Quincas, acrescentando três ou quatro novas situações vividas pelo quarteto (que com Quincas vira quinteto) de vagabundos que poderiam muito bem ter saído da cabeça do próprio Jorge Amado, autor da história original (da qual já falei aqui).

Até consegue no lado humorístico, com passagens, piadas e chistes simples, inteligentes e bem estruturados no quarteto de vagabundos, que me lembraram os bons tempos de Os trapalhões.

Mas não se sai muito bem ao criar personagens que não pertenciam a narrativa original como a dona de cabaré Manuela (Marieta Severo), amor de Quincas na sua vida de esbórnia, cuja relação com o vagabundo fica pouco verossímil por não ser bem desenvolvida pelo roteiro. 

Até mesmo a filha Vanda tem a participação bastante esticada no filme, com direito a um arco narrativo independente que fica meio difícil de engolir.

Personagens provavelmente motivados pela fama das atrizes, que mesmo pouco exploradas pelo roteiro, interpretaram muito bem seus papéis, com destaque a Mariana Ximenes que mescla muito bem as emoções de seriedade, tristeza e nostalgia que a personagem sente pelo pai.

Paulo José interpreta um Quincas leve e gozador que, apesar de limitado pela condição de defunto, aproveita muito da narração cínica que faz do além pra traduzir as expressões de seu corpo ao espectador. É difícil, e ao mesmo tempo emocionante, ver um ator da idade e condição dele em toda essa atividade.

Mas a alma do filme é mesmo o quarteto de vagabundos que roubam o defunto, formado por Pastinha (Flávio Bauraqui), Pé-de-vento (Luis Miranda), Curió (Frank Menezes) e cabo Martim (Irandhir Santos) que passam a sensação de estarem totalmente a vontade, apesar de compenetrados, em seus papéis.

De parabéns estão o diretor Sérgio Machado e a preparadora de elenco Fátima Toledo, que já trabalhou em filmes como Cidade de Deus e Tropa de Elite, por conseguirem extrair dos atores emoções verdadeiras e condizentes em todas as cenas.

Em especial ao elenco de apoio, quase todo formado por atores baianos pouco conhecidos, muitos deles provindos do Bando de Teatro Olodum e da série de TV Ó Paí, ó.

A direção de arte foi muito feliz na ambientação do filme ao manter o caráter atemporal da narrativa original, inclusive com os figurinos dos personagens bem caracterizados para se passar em qualquer lugar da Bahia, dos anos 60 ao início do século XXI.

A câmera firme de Sérgio Machado e do diretor de fotografia Toca Seabra, apesar de pouco inventiva, não decepciona ao explorar ambientes, mas prefere destacar as ótimas performances dos atores.

Filmado em locações em toda a cidade de Salvador, com muitas delas no próprio Pelourinho, é um filme que agrada visualmente.

Grande comédia nacional bem adaptada do texto de Jorge Amado, que se baseia em situações absurdas, mas muito bem desenvolvidas, e numa ótima química de todos os atores, em especial do quarteto principal.

Mais uma prova que, nesse ano de 2010, o cinema nacional já se mostra vindo a toda pra competir de igual para igual com os estrangeiros.

Recomendado!

Valeu!

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