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domingo, 25 de abril de 2010

Quadrinhos: Os Perdedores

Qual o limite das agências de espionagem? Desfilando entre o certo e o muito errado em termos de valores morais, hoje em dia não se sabe se os espiões existem para fazer bem as pessoas de seu país ou exclusivamente a instituição que os controla.

É isso que é discutido na série Os Perdedores (160págs, 2010), escrita por Andy Diggle e desenhada por Jock e lançada agora em Abril pela Panini Editora no Brasil.

Editada originalmente pelo selo VERTIGO da DcComics americana, a série é lançada aqui aproveitando que uma adaptação pros cinemas (cujo cartaz brasileiro você pode conferir ao lado) acabou de estrear nos EUA e deve chegar por aqui em junho.

Um grupo de ex-operativos da CIA (Agência Central de Inteligência americana), dados como mortos depois da queda de um helicóptero, tenta sabotar as operações ilícitas da agência a fim de obterem vingança contra o misterioso Max, que teria ordenado suas mortes. Eles também querem que seus nomes sejam tirados da lista negra para poderem voltar a viver suas vidas normalmente.
Só que a agência é mais sórdida do que eles podiam imaginar. 

Clay, também chamado de Coronel, é o líder, motivador e planejador da vingança.
Jensen é o especialista em informática bem-humorado que adora se disfarçar.  
Vira-latas é o especialista em veículos e o coração da equipe.  
Cougar é o atirador de elite e mais calado do grupo.
Roque é o cara cheio de contatos, mal-humorado e contestador por natureza.
Entre eles ainda existe a sanguinária Aisha, única agente que ainda está na ativa e responsável por fornecer as informações secretas ao grupo.

O roteiro de Andy Diggle é bastante direto e não economiza na ação. Por exemplo, os Perdedores já começam a história roubando um helicóptero do exército dos EUA.

Aos poucos, nos diálogos entre os personagens, é que vamos descobrindo quem eles são e como chegaram ali. 

Não existem flashbacks, ou seja, a história se passa toda no presente e somos conquistados pelas falas e relacionamento entre os personagens, bastante sinceros e quase sempre bem-humorados.

O texto ainda cita acontecimentos históricos reais recentes e bastante polêmicos para embasar a trama.

Lembrou muito o antigo seriado de tv Esquadrão Classe A (The A-Team), que fez muito sucesso nos anos 80 nos EUA, Brasil e no mundo.

Os desenhos de Jock, num traço realista, simples e anguloso, combinam muito bem com o estilo de humor do grupo.

Seus ângulos inusitados sempre destacam expressões e poses dos que definem o tom da história.

A edição brasileira compreende as primeiras seis histórias do título americano (que teve 32 histórias) e, provavelmente será a base para a história do filme.

Apesar da trama ter início, meio e fim, o estilo aparentemente despretensioso da história desperta a curiosidade sobre os Perdedores, principalmente em relação ao seu passado e o real motivo de serem dados como mortos. 

Principalmente ao fim da edição, onde o roteirista coloca sua provável motivação para a construção da trama. É o trecho de uma declaração real do ex-chefe do DEA (Força Anti-drogas americana) Dennis Dayle, que diz que em 30 anos de serviço os principais alvos de suas investigações quase sempre trabalhavam para a CIA.

Ou seja, há mais podridão nas batalhas entre os espiões do que imaginamos.

Espero que o filme faça sucesso suficiente para que a Panini publique todas as edições do título no Brasil. 

Uma boa história de espionagem com muita ação, frases de efeito, cabeças estouradas e intrigas políticas embasadas em acontecimentos reais é o que esperar de Os Perdedores.

Recomendado!

Valeu!

Quadrinhos: Loveless -Terra Sem Lei

LoveLess – Terra sem Lei (132págs, 2010) é a nova publicação da Panini Editora que chegou as bancas nesse mês de Abril no Rio e em São Paulo.

Oriundo do selo VERTIGO da DcComics é mais uma opção pra quem está cansado de histórias de qualidade duvidosa que invadem as bancas mensalmente, principalmente as de super-heróis.

Wes Cutter acaba de voltar a sua cidade natal após ter ficado dois anos preso por ter lutado pelo lado perdedor na Guerra Civil americana. Seu objetivo é reassumir suas terras e reencontrar sua esposa Ruth, dada como desaparecida desde que o exército da União invadiu a cidade de Blackwater. Só que nem tudo é o que parece e ele e Ruth vão trazer sua vingança a cidade.

Só pra esclarecer: a Guerra Civil americana (1861-1865), também conhecida como Guerra da Secessão, foi um sangrento conflito que dividiu os Estados Unidos entre os Estados do Norte, de economia baseada no comércio, e os Estados do Sul, de economia baseada na agricultura. O Sul declarou guerra aos estados do Norte após a vitória de Abraham Lincoln nas eleições presidenciais, visto que ele era declaradamente a favor da abolição da escravatura, sendo que a escravidão era considerada essencial na economia dos estados sulistas.

Escrita por Brian Azzarello, o mesmo de 100 Balas (do qual já falei aqui), Loveless se passa no sul dos Estados Unidos, na época do velho oeste, onde todos tinham armas e era difícil manter a lei. 

Azzarello trabalha com um tema polêmico, o lado derrotado na Guerra Civil. Vemos homens, como Wes, que decidiram lutar na guerra não por serem a favor da escravidão, mas por quererem garantir sua independência e soberania sobre suas próprias terras. E mesmo a guerra tendo acabado, vários deles não desistiram de lutar pelo que acreditam, se tornando foras-da-lei.

O roteiro de Azzarello surpreende por ter vários níveis de atenção, ou seja, algumas vezes temos várias coisas acontecendo numa mesma cena. 

Por exemplo, alguns flashbacks acontecem no meio da ação. Isso quer dizer que temos ação ocorrendo no presente dividindo a cena com memórias do passado num mesmo espaço. O que torna a história não muito fácil de ser apreciada pra quem procura uma leitura rápida e despretensiosa. É preciso prestar atenção pra entender tudo.

Uma maneira de resolver isso foi a mudança de cores quando há alguma coisa a ser lembrada. O personagem do presente tem tons normais, enquanto aquele que divide a cena com ele, no passado, tem tons de sépia.

A arte de Marcelo Frusin é num estilo realista e simples com traços bastante elegantes, por assim dizer, abusando dos contrastes entre luz e sombras para criar emoção. Desenhos talvez muito bonitos para uma história sangrenta e pesada como essa.

A edição da Panini tem uma boa qualidade gráfica, mas carece de extras como informações sobre os autores e o texto de apresentação da série feito pelo próprio Brian Azzarello, que por acaso foi reproduzido no site da editora (http://web.hotsitepanini.com.br/vertigo/amor-e-sexo-no-velho-oeste/), onde Azzarello destaca seu amor pelo filmes de Faroeste e sua intenção de fazer de Loveless uma história com muita paixão, amor e luxúria (ou seja, sexo) no velho oeste.

Necessário dizer que essa edição compreende as cinco primeiras histórias do título, que nos EUA compreendeu 26 histórias. 

Não posso deixar de admitir também que não me senti satisfeito com essa edição, ou seja, fiquei com aquele gostinho de quero mais. Isso porque mesmo reunindo cinco das edições originais, a história não parece ter chegado nem na metade do que foi planejado pelo autor. Que venha mais Loveless!

Um faroeste diferente que não subestima sua inteligência contendo intrigas políticas, sexo, violência, romance, sexo (de novo) e, é claro, vingança é o que se pode esperar de Loveless – Terra Sem Lei.

Recomendado.

Valeu!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Filme: Te Amarei Para Sempre

Baseado no livro de Audrey Niffenegger, A Mulher do Viajante No Tempo (do qual já falei aqui), a película, que tem Brad Pitt como um dos produtores executivos, é dirigida pelo alemão Robert Schwentke

Te Amarei para Sempre (The Time Traveler´s Wife, 2009), é um filme sensível, melancólico, com passagens de fantasia, e muito romântico.

Henry (Eric Bana) viaja no tempo, mas o faz involuntariamente e nunca controla pra onde vai. Clare (Rachel McAdams) é visitada por ele nessas viagens desde os seis anos e quando finalmente o encontra no tempo presente eles engatam um romance e finalmente se casam, mas sua condição de viajante faz com que nem tudo seja as mil maravilhas.

Roteiro bem adaptado do livro original que chama a atenção por “enxugar” boa parte das passagens de Audrey, que é mestra no detalhamento. Incrivelmente ele ainda consegue mostrar boa parte do que acontece no livro nas sutilezas das imagens.

Destaque para os ganchos do fim que remetem a cenas do início, fechando o filme com maestria.

Grande trabalho de adaptação de Bruce Joel Rubin que destoa do livro pelo fato de ser mais otimista e condescendente em algumas situações.

Não há do que se reclamar do casal de atores principal.

Eric Bana está muito bem como Henry, conseguindo passar todo o sofrimento do personagem na maioria das vezes só pelo olhar. É o grande responsável pela melancolia do filme.

Mas o destaque mesmo fica para a bela Rachel McAdams, extremamente expressiva e verossímil, passando com sucesso o deslumbramento da juventude e sabedoria da maturidade que a personagem vive no filme.
Chama a atenção seus grandes olhos, que o diretor soube usar sem pena.
Acaba se tornando daqueles tipos de mulheres que dá vontade de pegar no colo, fazer carinho e levar pra casa. Paixão imediata.

Belíssima fotografia e direção de arte que apostaram em cores sóbrias e realistas para o tempo presente em contraste com tons mais vibrantes quando Henry viaja no tempo.

Destaque para a locação escolhida para a casa da família de Clare e o bosque que a rodeia.

Grande trabalho dos maquiadores, cabeleireiros e figurinistas por pontuar bem a passagem dos anos através de roupas e cortes de cabelo, principalmente os de Clare.

Trilha sonora original melancólica que tem o piano e violino clássicos como base, cumprindo otimamente bem o seu papel de passar quase despercebida em algumas cenas e emocionar na medida certa em outras.

Direção extremamente competente que usa de pequenos detalhes e movimentos de câmera inventivos e sutis para pontuar passagens importantes.

Três seqüências não me saem da mente.

A primeira é quando Clare acorda na casa de Henry após transarem pela primeira vez. O movimento da câmera que começa em seu rosto e continua rotacionando a visão por cima da cama traduz muitíssimo bem a estranheza e o deslumbramento da personagem.

A segunda é a seqüência que mostra a passagem dos anos na casa do casal. A câmera passeia pelos cômodos da casa, quase que num sentido giratório para mostrar o casal em várias tarefas do dia-a-dia enquanto vai envelhecendo. Tudo isso com cortes escondidos para dar a impressão que foi tudo feito numa mesma filmagem.
A terceira é mais ao fim do filme quando Clare está deitada triste em sua cama. De repente, a “vemos” de cima e um tic-tac de relógio pode ser ouvido ao fundo pontuando o movimento em sentido horário da câmera que registra o fim da cena.

Destaque também para a seqüência final do filme, filmada quase que exatamente como uma das seqüências iniciais, fechando um belo ciclo.

Lindo filme que apesar do título brasileiro água-com-açúcar remete a um romance bem real e que conquista pelo conjunto, te fazendo acreditar que o amor pode sim vencer as barreiras do tempo.

Recomendado!

Valeu!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Livro: A Mulher do Viajante No Tempo

Será que o amor resiste ao tempo? Muitas histórias já responderam essa pergunta.

Mas será que o tempo resiste ao amor?

É o que tenta responder a escritora e artista plástica Audrey Niffenegger em seu primeiro, e elogiadíssimo, romance: A Mulher do Viajante No Tempo (The Time Traveler´s Wife, 496 págs.) que vendeu 5 milhões de cópias e já foi traduzido para 33 idiomas. 

Foi lançado no Brasil em 2004, e reeditado em 2009 pelo selo Suma das Letras da editora Objetiva por conta da estréia da adaptação para os cinemas que aqui ficou conhecida como Te Amarei para Sempre (do qual falei aqui.)

Henry tem uma condição genética rara: ele viaja no tempo. Só que ele não controla pra quando nem pra onde vai. Essa quase maldição em sua vida muda de foco quando, aos 28 anos, é abordado por uma jovem de 20 anos que parece conhecê-lo há muito tempo. Clare encontra o Henry do futuro desde os seis anos de idade por causa de suas viagens. No tempo presente, logo engatam um romance e vivem um casamento com muito amor, algumas felicidades e vários percalços que só um viajante do tempo involuntário pode oferecer.

Romance de estréia da autora que surpreende pela leveza e sensibilidade que contrastam com a complexa e espetacular montagem não-linear da história, ou seja, apesar de haver uma evolução dos personagens, existe a todo momento idas e vindas (que não são flashbacks) no tempo da história.

As descrições meticulosas de Audrey fazem toda a diferença para a ambientação e verossimilhança da história, que é narrada pelos dois personagens alternados, ou seja, as vezes uma cena começa pela descrição de Clare e de repente é interrompida pela visão de Henry da mesma situação. 

Claro que as narrações são devidamente pontuadas pela autora, que sempre avisa quem está narrando naquele momento, mas não há como evitar alguns equívocos e confusões do leitor que faz uma leitura rápida e desatenciosa. O que não é recomendado para esse livro.

É daquele tipo de história em que várias vezes você se pega vivendo com os personagens. Sua leitura é como acompanhar o dia-a-dia de um personagem de uma (boa) novela de tv, pois apesar da motivação fantástica (viagens no tempo) qualquer pessoa que já viveu uma relação a dois consegue se reconhecer ali.

Dá pra entender o porquê disso quando se conhece um pouco da vida da autora. Audrey parece ter colocado boa parte de sua experiência de vida no livro. Em particular na personagem de Clare, que também é artista plástica e tem a aparência física e um núcleo familiar bem parecido com o da autora.

Audrey faz questão de usar sempre lugares reais da cidade de Chicago e redondezas, onde mora a muitos anos, para a ambientação do livro. Na verdade, Chicago, seus restaurantes, bibliotecas e discotecas recorrentes são quase um personagem da história.

Outro detalhe importante são as referências artísticas que a autora inseriu na história. A afinidade entre Henry e Clare é sempre justificada por algum livro, pintura, poema e música que os dois gostam ou por alguma obra que discordam e acabam discutindo. 

Fiquei muito impressionado com as referências nada óbvias feitas a bandas de rock dos anos 90, que os personagens ouviam na juventude, em contraste com a música clássica que aprenderam a apreciar na maturidade.

Uma história com um desenvolvimento surpreendentemente natural que mostra o intervalo de quase 30 anos de convivência de um casal. Ta tudo lá: as descobertas, a paixão, o casamento, as mortes na família, a tentativa de ter filhos. Tudo permeado por um amor inabalável construído há tantos anos.

O que pra Clare começa como uma inocente amizade de menina acaba se transformando em companheirismo e posteriormente amor pelo Henry do futuro conforme ela envelhece. Ao conhecer enfim o Henry do presente, ela se vê obrigada a rever a imagem idealizada da pessoa que a visita esporadicamente há 14 anos para aprender a viver e a construir uma vida com o homem real, cheio de defeitos. Não vai ser fácil. Mas a vida também não é.

Recomendadíssimo!

Valeu!

domingo, 18 de abril de 2010

Livro: Orgulho e Preconceito e Zumbis

Jane Austen (1775-1817) é uma das mais emblemáticas escritoras inglesas. Tendo vivido numa época em que às mulheres só cabia serem preparadas para o casamento, ela inovou criando heroínas racionais e independentes, que tentavam fugir dos valores sociais estabelecidos.

Uma espécie de quase-embrião do feminismo, visto que suas histórias, mesmo com esse tipo de heroínas, ainda prezavam pelo romance e costumes familiares ingleses.

Orgulho e Preconceito é sua obra mais famosa e conta todas as agruras, embates e discussões que tiveram Elizabeth, a mais inteligente das cinco filhas do Sr. Bennet, e o orgulhoso Sr. Darcy, até enfim se apaixonarem e casarem.

Resumindo: Uma típica história de mulherzinha.

O mesmo não pode ser dito de Orgulho e Preconceito e Zumbis (320 págs., 2010) que a editora Intrínseca acaba de lançar no Brasil.

Um livro com uma trama essencialmente igual a original, mas com algumas concessões a existência de mortos-vivos que assombram a Inglaterra do século XVIII desde o estouro de uma misteriosa praga há 55 anos.

Sem tentar explicar como isso ocorreu, o escritor americano Seth Grahame-Smith transforma o romance mais conhecido de Jane Austen em algo que amantes de histórias de zumbis e artes marciais terão gosto de ler.

Elizabeth, treinada na China pelos monges shaolin do mestre Liu, é a mais talentosa de suas cinco irmãs nas artes mortais. Jurou defender a Inglaterra das não mencionáveis criaturas de Satã, mas a insistência de sua mãe para que se case e a chegada do Sr. Darcy, um arrogante e rico guerreiro, junto com seu amigo a cidade onde moram, vão ocupar sua mente e seus afazeres mais do que ela gostaria.

Logo na capa dá pra perceber que não se trata de uma simples paródia do texto de Austen, pois o nome dela aparece como autora do livro, antes do nome de Grahame-Smith.

No miolo do livro temos a justificativa para isso, visto que Grahame-Smith parece ter mantido a trama principal sem muitas modificações, inclusive com grandes partes do texto original.

Tudo o que ele fez, com maestria diga-se de passagem, foi incluir um motivo a mais para a racionalidade e irrascibilidade de Elizabeth (que virou uma expert em kung-fu) e a presença de zumbis rondando os bosques e estradas da Inglaterra.

Além, é claro de várias cenas de lutas, decapitações e emboscadas de mortos-vivos, estrategicamente implantadas entre os conflitos da trama principal. (Incluindo o bônus de um confronto sangrento com ninjas)

Um livro que poderia se classificado como um romance de costumes confrontando artes marciais e o  sobrenatural, com algumas passagens engraçadíssimas no seu desenrolar.

Uma grande re-imaginação da obra de Jane Austen que mostra grande respeito pelo texto da autora, mesmo com as cenas de violência.

“É uma verdade universalmente aceita que um zumbi, uma vez de posse de um cérebro, necessita de mais cérebros.”

Recomendado pra quem sempre quis entender as mulheres do século XVIII ou, como eu, só gosta de uma boa história de mortos-vivos comedores de cérebro.

Valeu!
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