Se seu comentário não aparecer de imediato é porque eles são publicados apenas depois de serem lidos por mim.
Isso evita propagandas (SPAM) e possíveis ofensas.
Mas não deixe de comentar!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Livro: A Praga Escarlate

Você acha que o mundo vai acabar em 2012?
Que nada! Calendários Maias e Astecas a parte, nós temos que estar preparados, pois segundo John Chaney ele acaba em 2013, pelo menos do modo que nós o conhecemos.

John Griffith Chaney ou Jack London (1876-1916), como é mais conhecido, é um escritor americano que viveu intensamente em vários setores da sociedade na virada do século XIX para o XX.

Acostumado a aventuras próprias o autor conseguiu passar para seus livros boa parte das experiências que teve na vida, tanto que ainda é lembrado por isso.

Autor de sucessos editados até hoje como O Chamado da Floresta e O Lobo do Mar, ele é acostumado a escrever sobre a vida selvagem.

Seus romances sempre rondam sua dificuldade com a vida em sociedade e mostram homens e animais tendo que superar dificuldades voltando a natureza. Seu romance mais conhecido, Caninos Brancos, que virou um filme em 1992, por exemplo, mostra a vida de um lobo pelos olhos do próprio animal.

A Praga Escarlate (Conrad editora, 2003, 104págs.) é uma novela (termo que designa histórias com tamanho entre o conto e romance) que chama a atenção por se passar no futuro. É uma história pós-apocalíptica, talvez a única de London, que conta o fim da sociedade por uma doença mortal.

Um senhor de 87 anos caminha por um trilho abandonado de trem com seu neto vestindo apenas pele de animais. Sessenta anos atrás, em 2013, a humanidade foi quase dizimada pela epidemia de uma doença que podia matar em minutos. Poucas pessoas sobreviveram e sem gente para operar a tecnologia, o mundo reverteu a um estado pré-histórico, e a humanidade passou a viver em tribos. É então que o homem mais velho vivo, que é chamado de , conta a seus três netos a história de como era o mundo antes da doença e como ele sobreviveu a poderosa praga escarlate.

London, que tinha convicções marxistas e socialistas, usa suas histórias para renegar o capitalismo e organizações sociais. Esta história não podia ser diferente.

“De qualquer maneira, todos morriam: os bons e os maus, os competentes e os inertes, os que amavam viver e os que desprezavam a vida. Pereciam. Tudo perecia.”

Apesar de ter sido escrita em 1912, ele demonstra uma certa clarividência ao se presumir que em 2013, empresas e organizações comerciais teriam poder para governar os EUA e o mundo.

Quase o que acontece hoje em dia com grandes empresas pressionando governos para atrasar pesquisas de novos combustíveis, piorando a poluição, causando mudanças drásticas no clima (que puderam ser sentidas neste mês de janeiro) e agravando o aquecimento global.

Voltando ao livro, London se mostra mestre em descrever situações tensas e a vida em paisagens desérticas e desoladas.

A tomada de grandes cidades, em especial São Francisco (onde se passa quase toda a história), pelo caos humano causado pela doença e, posteriormente pela selvageria da natureza, lembrou muito o livro Eu sou a Lenda, escrito por Richard Matheson em 1954 e que já virou filme três vezes, a última com Will Smith em 2007.

A Praga Escarlate é uma espécie inspiração para a história de Eu sou a Lenda, substituindo os zumbis pela doença, sendo que o otimismo da continuidade histórica, que não está presente no livro de Matheson, fazem dele uma história um tantinho melhor que aquela que inspirou.

“Foi no lago Temescal, perto daquela que um dia havia sido a cidade de Oakland, que encontrei os primeiros humanos vivos. Ah, meus netos, eu não poderia descrever a emoção de quando, montado no cavalo e descendo as encostas que davam no lago, vi a fumaça do acampamento subir pelas árvores. Meu coração quase parou de bater. (...) Eu já vinha achando que era o único homem vivo no mundo.”

London ainda demonstra ironia de classes transformando um chofer (motorista) bruto e amoral em líder de uma das tribos de humanos sobreviventes e a esposa de um político aristocrata na escrava/esposa do líder.

Um romance curto sobre o fim de civilização que nos alerta para os caminhos que a humanidade pode tomar se sua organização for destruída. Grande diversão literária numa boa edição de bolso da editora Conrad, ilustrada por Gordon Grant, e que pode ser assimilada em poucas horas.

Recomendado.

Valeu!

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
 
Tweet