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domingo, 31 de janeiro de 2010

Seriado: Carnivale (HBO, 2003-2005)

Difícil falar dessa série pela variedade dos assuntos nela presente.

Cavaleiros templários, profecias, strip-tease, poderes psíquicos, depressão econômica, curas milagrosas, aberrações, cartas de tarô e um circo envolto em misticismo. 

São alguns dos temas abordados na série Carnivale, umas das produções mais caras e elogiadas da HBO nessa década.

A série, exibida de 2003 a 2005, foi criada e produzida por Daniel Knauf

Teve apenas 24 episódios divididos em duas temporadas e conta duas histórias que começam paralelas, mas com elementos que vão aproximando-as cada vez mais.

Uma delas é a de Ben Hawkins (Nick Stahl), um jovem com poderes de cura que é acolhido por um circo (que dá nome a série). O circo é comandado pelo misterioso Gerente, que nunca sai de seu trailer e passa suas ordens pelo anão Samson (Michael J. Anderson), a única pessoa autorizada a vê-lo.

A outra é a história do Irmão Justin (Clancy Brown), pastor que comanda uma paróquia em uma cidadezinha da Califórnia. Justin tem poderes psíquicos e entra na mente das pessoas, nem sempre com boas intenções.

Ben e Justin são perturbados pelos mesmos sonhos que prenunciam algo terrível que está por vir.

Ambientada em 1934, num Estados Unidos pós-crise de 29, a série prima pela fidelidade com que retrata a sofrida vida dos americanos da época. A crise econômica deixou marcas profundas na sociedade americana e muitos foram obrigados a rever seus valores morais para conseguir por algum alimento em suas mesas. 

O show de strip-tease do circo, por exemplo, é comandado por uma família, em que o patriarca Stumpy (Toby Huss), apresenta sua esposa Rita Sue (Cynthia Ettinger) e as duas filhas para dançar para a platéia e eventualmente “receber” clientes especiais em troca do sustento.
A pobreza é elemento recorrente na série. Roupas sujas e rostos empoeirados permeiam todos os episódios com uma impressionante reconstrução de época por parte da produção. 

A série chegou a ter a maior estréia (até então) de uma série da HBO e custava 4 milhões de dólares por episódio só pra manter a qualidade da ambientação e o elenco fixo de 11 pessoas.
Ganhadora de vários prêmios, a série tem atores que não deixam nada a desejar, diga-se de passagem.

Michael J. Anderson, o anão Samson, é extremamente convincente como administrador do circo. Dá um show de atuação, sabendo ser sensível e firme nas horas certas. É uma pena que não existam mais papéis assim para pessoas como ele. Sua interpretação dos monólogos de introdução das temporadas é arrepiante.

Outro destaque é Clancy Brown, que fez o vilão Kurgan no primeiro filme do Highlander, interpretando um Irmão Justin dividido entre valores cristãos e a ambição crescente causada pela melhora no controle de suas habilidades.

Durante toda a série, Justin e Ben terão que aprender a controlar seus poderes e descobrir porque sonham um com o outro.

Uma série cheia de simbolismo onde nada é o que parece e muito menos explicado gratuitamente. 

Muitos espectadores alegaram ter abandonado a série na época da exibição por causa de sua intrincada mitologia, já que os escritores não perdiam tempo explicando tudo de novo a cada episódio.

Alguns jornalistas chegam a compará-la com LOST em termos de complexidade.

Apesar disso a série tem uma base de fãs fiéis que aumenta a cada divulgação dela pela internet. Pena que não teve mais episódios.

O conflito principal é resolvido no fim da 2ª. Temporada, mas são deixadas algumas pontas soltas que estenderiam a história.

O autor Daniel Knauf, não cansa de declarar que havia planejado 6 temporadas para a série. É uma pena que isso não ocorreu.

Seu cancelamento depois de duas temporadas se deveu em grande parte ao seu alto custo, já que o nível de espectadores se manteve bastante aceitável para uma série de tv a cabo.

Dá pra encontrar fácil para venda o box de DVDs com as duas temporadas completas da série.

Grande drama sobrenatural tanto pela produção e ambientação, quanto pela história complexa e intrigante, é o que esperar de Carnivale.

Recomendado!

Pra fechar o post, transcrevo o monólogo de Samson na abertura da série:

“Antes do início, depois da grande guerra entre Céu e Inferno, Deus criou a Terra e deu o domínio dela a um engenhoso macaco chamado Homem. 

Em cada geração tem nascido uma criatura de luz e uma de trevas. E grandes exércitos lutam a noite na antiga guerra entre o bem e o mal. 

Havia magia, então. Nobreza, e uma crueldade inimaginável. E assim foi, até o dia em que um falso sol explodiu sobre a trindade. 

E o homem, desde então, vaga pelo mundo, buscando uma razão.”

Valeu!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Filme: Deixa Ela Entrar (Låt den rätte komma in)

Quer ver um filme de romance vampiresco adolescente diferente do que está na moda? 

A dica é Deixa Ela Entrar (Låt den rätte komma in, 2008), um filme do diretor Tomas Alfredson que, desde seu lançamento na Suécia em 2008, vem sendo bastante elogiado pela crítica especializada no mundo todo. Sua estréia aqui no Brasil foi apenas em outubro de 2009, mas ainda dá pra assisti-lo em alguns (poucos) cinemas.

É a história de Oskar (Kåre Hedebrant), um garoto de 12 anos que é importunado por valentões da escola, além de muito solitário, até que acaba fazendo amizade com a menina Eli (Lina Leandersson), sua nova vizinha que só aparece a noite.
Acontece que Eli é uma vampira que fica encantada com Oskar, mas que tem dificuldade em controlar sua sede por sangue, o que causa bastante rebuliço devido aos misteriosos assassinatos ocorridos na região.

Uma trama que na verdade retrata a ruptura com a inocência de forma bastante sensível e desafiadora, mas com um desenrolar um tanto pesado e violento.

O roteirista John Ajvide Lindqvist, que também é o escritor do livro original, cria uma história de romance adolescente bastante inusitada.

A amizade entre os dois personagens vai sendo belamente construída na base da dependência, motivada pela falta que eles sentem por pessoas de sua idade (apesar de nunca ser revelado a idade real de Eli). A violência faz parte, não por escolha própria, da vida dos dois e isso acaba sendo um fator importante para eles se unirem.

Uma narrativa construída inteiramente no presente que deixa várias perguntas na cabeça do espectador, justamente em relação ao passado dos personagens. Uma reflexão é necessária, por exemplo, para se entender a história do velho que mora com Eli e sua relação com Oskar no fim do filme. Escolha acertada do roteirista principalmente por causar discussão e estimular a imaginação.

O diretor constrói a trama de forma bem lenta, mas extremamente progressiva, abusando de planos estáticos, onde só os personagens se movem, na primeira metade do filme. Quando a câmera enfim se movimenta é pra revelar algum objeto ou personagem importante para estabelecer o suspense na película.
Outro fator que colabora nesse suspense é a quase ausência de trilha sonora em momentos que precedem a tensão. Existe música, mas ela só se revela em momentos de passagem ou pra incitar emoção, quase nunca nos momentos de suspense. A edição de som deixa todo o trabalho na respiração e fala dos atores, que se torna bastante ruidosa e pesada devido ao clima gelado da cidade onde se passa a trama. 

A neve abundante nas cenas externas é um grande elemento opressor que estabelece o tom pesado com que se desenrola a trama e também é um espelho para a frieza dos colegas valentões e do próprio Oskar nas cenas de confronto.

Apesar de fazer parte do filme, a violência não é retratada com mal-gosto, nem mostrada em detalhes ou closes específicos. É claro que não dá pra saber se isso é motivado por escolha estilística ou falta de verba da produção. O que se vê mesmo, e que não podia faltar num filme de vampiro, é bastante sangue, esse sim mostrado sem pudores.
O casal de atores principal mostra uma boa química juntos e faz um bom trabalho, apesar de mostrar inexperiência em algumas cenas. 
Destaque para a atuação dos companheiros do valentão que oprime Oskar na escola, por conseguirem passar dúvida e arrependimento de forma uma tanto mais elogiosa do que o casal principal.

Importante dizer que a trama retrata vampiros na forma clássica: ágeis, rápidos, com medo de sol, que mordem pescoços para viver e, principalmente, precisam de convite do morador para entrar numa casa, daí o título do filme. 

Dois fatos que podem decepcionar algumas pessoas: Primeiro é que não é um filme de ação, apesar dela estar presente, e Segundo é que não há nenhum vampiro bonitinho no filme, apesar da história ser intrigante. 

Outra coisa importantíssima, e que não poderia deixar de falar, é que não é um filme para criança e talvez seja um pouco denso demais para adolescentes. Diferente dos sucessos Crepúsculo e Diários do Vampiro.

O filme tá dando tanto o que falar que uma versão americana já tem diretor e atores confirmados e deve começar a ser filmada ainda esse semestre. Mais uma vez os americanos refilmando filmes estrangeiros para adaptá-los a sua realidade. Será que eles não gostam de ler legendas?

Um filme um tanto pesado sobre o sobre o final da infância, iniciado de forma um pouco parada, cujo fio-condutor é uma história de amor entre dois pré-adolescentes que ao final incita a reflexão e discussão é o que esperar desse ótimo suspense.

Recomendado.

Valeu!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Livro e Seriado: True Blood

Morto até o Anoitecer (Dead Until Dark, 316 págs.) é o primeiro livro da série de vampiros sulistas americanos que é escrita por Charlaine Harris desde 2001.


Sookie Stackhouse é uma garçonete loira de 25 anos que sempre quis conhecer um vampiro.
Sua vontade só aumentou desde que os vampiros deixaram de ser lenda e decidiram vir a público depois da invenção de um sangue sintético plenamente funcional, há 4 anos.
O vampiro Bill Compton se estabelece em Bon Temps, cidadezinha (fictícia) do norte da Louisiana, e fica fascinado por aquela misteriosa garçonete que parece saber tudo o que os outros pensam, menos ele.
Acontece que Sookie é telepata e entre a atração que sente pelo silêncio da mente de Bill e o preconceito de seus amigos, ela vai ter que desvendar alguns violentos assassinatos e descobrir que os vampiros podem não ser os únicos seres estranhos que existem no mundo.

A invenção do sangue sintético que é usado como nutrição pelos vampiros, grande premissa da autora, dá muito pano pra manga, sendo que nem todos os vampiros estão dispostos a aderir a ele e parar de “caçar”, por assim dizer.

Um ponto interessante é que os adoradores de vampiros se tornam públicos chegando a cúmulo de se oferecer seu pescoço, e outras partes do corpo, promiscuamente para os vampiros apreciarem.

Outro ponto interessante é quando o sangue de um vampiro é ingerido pelos humanos, deixando-os mais rápidos, fortes, exuberantes e sexys, além de ter a capacidade de cura amplificada sem precisar serem transformados.

O livro em si contém uma trama de mistério clássica, cujo assassino só é revelado no final, mas acaba atraindo pelas revelações sobre poderes, métodos e hierarquias de vampiros, nesse mundo em que eles “saíram do caixão”, para usar um termo do livro.

Também surpreende o jeito que ela constrói a narrativa, em primeira pessoa na voz de Sookie, de maneira extremamente realista, mas de modo que perto do final ficamos sabendo que vampiros podem não ser os únicos seres sobrenaturais que não são lendas. Fica a promessa de encontros com bruxas, lobisomens e outras figuras míticas para os próximos volumes.

Um fato que pode entediar alguns leitores do sexo masculino é a insistência da autora em descrever com detalhes as roupas e acessórios que Sookie usa. Mas as cenas de sexo (que não podem faltar num bom romance de vampiro), apesar de narradas por um ponto de vista bem feminino, provavelmente agradarão a públicos diversos.

Um livro que se destaca por agradar vários públicos contendo ação, aventura e um mistério clássico num estilo realista, mas com um pano de fundo sobrenatural. Além de uma personagem principal independente, cativante e cheia de personalidade.

Recomendado!
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A primeira temporada da série True Blood, produzida e exibida pela HBO em 2008-2009, tem como base a mesma trama do primeiro livro, mas consegue ir muito além.

Tendo apenas doze episódios, metade de uma série regular americana, True Blood surpreende por expandir ainda mais o universo criado por Charlaine Harris (ao menos em relação ao primeiro livro) e se aprofundar com bastante propriedade nos mistérios e misticismos que envolvem a região sul dos Estados Unidos, mas sem abandonar o realismo que é marca da emissora.


Abandonando a narração em primeira pessoa de Sookie, que é interpretada por Anna Paquin, a série toma a liberdade de desenvolver mais os personagens secundários.

O irmão de Sookie, Jason (Ryan Kwanten) por exemplo, é um cara charmoso e de bom coração, mas muito menos inteligente que a irmã e que tem mania de estar sempre no lugar errado e com a pessoa errada.

A série aprofunda mais o mundo de regras dos vampiros, mostrando partes do passado de Bill (Stephen Moyer) e sua relação com outros vampiros. Inclusive ilustrando pontos que ficam obscuros no livro, que se limita ao ponto de vista de Sookie.

A participação do patrão de Sookie, Sam Merlotte (Sam Tramell), que esconde uma inesperada maldição, também é bastante aumentada na série.
Como não podia deixar de ser há algumas mudanças no enredo, principalmente em relação a quem faz o quê, mas isso não tira em nada o brilho da série.

A maior dessas mudanças, e a grande surpresa da série, é a desbocada personagem Tara Thorton (Rutina Wesley), que não existe no livro, e é a  melhor amiga de Sookie desde a infância.
Seu arco dramático, assim como o de Jason, é quase paralelo a trama principal, mas serve para enriquecer e dar credibilidade a história introduzindo tópicos como drogas, violência doméstica, curandeirismo, fanatismo religioso e outros assuntos tão peculiares tanto da Louisiana quanto de outras partes do mundo.

Vale lembrar que tanto Rutina Wesley, que interpreta Tara, e Anna Paquin, que interpreta Sookie, foram indicadas a vários prêmios de melhor atriz pela série, até que Anna acabou ganhando o Globo de Ouro do ano passado por atriz de série dramática.

O criador da série, que também age como produtor e escritor, Alan Ball foi responsável por outra série de sucesso da emissora A Sete Palmos (Six Feet Under), que contava a história de uma família dona de uma casa funerária e teve cinco temporadas, ou seja, é garantia de qualidade.

Importante citar que como uma série produzida pela HBO, True Blood, aborda vários assuntos polêmicos e mostra cenas de nudez e sexo, embora não seja nada de explícito ou pornográfico. Mesmo assim não é recomendada para menores ou pessoas de mente fraca.
Amor, mistério, sexo, vampiros e outros bichos, além de muito sangue, é o que esperar dessa série com grandes atuações e muito bem produzida pela HBO.

Recomendado!

Valeu!
Ps.: Pra quem se interessou, o segundo livro da série de Charlaine Harris, Vampiros em Dallas, já está a venda no Brasil e a terceira temporada de True Blood deve estrear em Junho de 2010 nos EUA.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Livro: A Praga Escarlate

Você acha que o mundo vai acabar em 2012?
Que nada! Calendários Maias e Astecas a parte, nós temos que estar preparados, pois segundo John Chaney ele acaba em 2013, pelo menos do modo que nós o conhecemos.

John Griffith Chaney ou Jack London (1876-1916), como é mais conhecido, é um escritor americano que viveu intensamente em vários setores da sociedade na virada do século XIX para o XX.

Acostumado a aventuras próprias o autor conseguiu passar para seus livros boa parte das experiências que teve na vida, tanto que ainda é lembrado por isso.

Autor de sucessos editados até hoje como O Chamado da Floresta e O Lobo do Mar, ele é acostumado a escrever sobre a vida selvagem.

Seus romances sempre rondam sua dificuldade com a vida em sociedade e mostram homens e animais tendo que superar dificuldades voltando a natureza. Seu romance mais conhecido, Caninos Brancos, que virou um filme em 1992, por exemplo, mostra a vida de um lobo pelos olhos do próprio animal.

A Praga Escarlate (Conrad editora, 2003, 104págs.) é uma novela (termo que designa histórias com tamanho entre o conto e romance) que chama a atenção por se passar no futuro. É uma história pós-apocalíptica, talvez a única de London, que conta o fim da sociedade por uma doença mortal.

Um senhor de 87 anos caminha por um trilho abandonado de trem com seu neto vestindo apenas pele de animais. Sessenta anos atrás, em 2013, a humanidade foi quase dizimada pela epidemia de uma doença que podia matar em minutos. Poucas pessoas sobreviveram e sem gente para operar a tecnologia, o mundo reverteu a um estado pré-histórico, e a humanidade passou a viver em tribos. É então que o homem mais velho vivo, que é chamado de , conta a seus três netos a história de como era o mundo antes da doença e como ele sobreviveu a poderosa praga escarlate.

London, que tinha convicções marxistas e socialistas, usa suas histórias para renegar o capitalismo e organizações sociais. Esta história não podia ser diferente.

“De qualquer maneira, todos morriam: os bons e os maus, os competentes e os inertes, os que amavam viver e os que desprezavam a vida. Pereciam. Tudo perecia.”

Apesar de ter sido escrita em 1912, ele demonstra uma certa clarividência ao se presumir que em 2013, empresas e organizações comerciais teriam poder para governar os EUA e o mundo.

Quase o que acontece hoje em dia com grandes empresas pressionando governos para atrasar pesquisas de novos combustíveis, piorando a poluição, causando mudanças drásticas no clima (que puderam ser sentidas neste mês de janeiro) e agravando o aquecimento global.

Voltando ao livro, London se mostra mestre em descrever situações tensas e a vida em paisagens desérticas e desoladas.

A tomada de grandes cidades, em especial São Francisco (onde se passa quase toda a história), pelo caos humano causado pela doença e, posteriormente pela selvageria da natureza, lembrou muito o livro Eu sou a Lenda, escrito por Richard Matheson em 1954 e que já virou filme três vezes, a última com Will Smith em 2007.

A Praga Escarlate é uma espécie inspiração para a história de Eu sou a Lenda, substituindo os zumbis pela doença, sendo que o otimismo da continuidade histórica, que não está presente no livro de Matheson, fazem dele uma história um tantinho melhor que aquela que inspirou.

“Foi no lago Temescal, perto daquela que um dia havia sido a cidade de Oakland, que encontrei os primeiros humanos vivos. Ah, meus netos, eu não poderia descrever a emoção de quando, montado no cavalo e descendo as encostas que davam no lago, vi a fumaça do acampamento subir pelas árvores. Meu coração quase parou de bater. (...) Eu já vinha achando que era o único homem vivo no mundo.”

London ainda demonstra ironia de classes transformando um chofer (motorista) bruto e amoral em líder de uma das tribos de humanos sobreviventes e a esposa de um político aristocrata na escrava/esposa do líder.

Um romance curto sobre o fim de civilização que nos alerta para os caminhos que a humanidade pode tomar se sua organização for destruída. Grande diversão literária numa boa edição de bolso da editora Conrad, ilustrada por Gordon Grant, e que pode ser assimilada em poucas horas.

Recomendado.

Valeu!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Filme: Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds)

Era uma vez na França ocupada pelos nazistas...

É a frase que estampa um dos posteres e começa o filme Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009), o novo do diretor Quentin Tarantino, responsável por filmes de sucesso como Pulp Fiction, Um Drinque no inferno e Kill Bill.

Bastardos Inglórios também é o nome do grupo especial, que na história é formado de soldados judeus do exército americano, cujo único objetivo é matar nazistas.

Shosanna (Mélanie Laurent) é uma jovem judia-francesa que teve toda a família morta pelo coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz) e vive disfarçada como dona de cinema na Paris do ano 1944.
Está apenas tentando ganhar a vida quando recebe a proposta de fazer no seu cinema uma pré-estréia com a presença de todo alto-escalão do exército nazista. Não quer deixar a chance de vingança passar.
O tenente do exército americano Aldo Raine (Brad Pitt), conhecido como o Apache, também promete não deixar seus Bastardos ficarem fora dessa.

Com um roteiro escrito pelo próprio Quentin Tarantino, o filme destila ação inconseqüente, diálogos intelectuais e homenagens a filmes da década de 20 e 30.

Bom pra ver que Tarantino continua em forma.

Tanto nos absurdos, nada reprováveis, de suas tramas, quanto na verborragia presente em seus roteiros.

Por exemplo, a primeira seqüência do filme dura uns 15 minutos sendo 90% dele só de diálogos. É o diálogo mais longo do filme que serve para apresentar o personagem do coronel Hans Landa, grande vilão do filme, e a motivação da personagem Shosanna. Desnecessário dizer que termina de forma trágica.

Talvez assim pudéssemos definir os filmes de Tarantino, várias seqüências de diálogos que terminam num arroubo de ação onde morre muita gente. Mas é claro que não é só isso.

Ele é um grande mestre em mexer com as emoções do público, não tendo pena em apresentar personagens, colocá-los em situações que despertem a simpatia do espectador para depois acabar com eles sem dó nem piedade.
Por exemplo, a participação inglesa na história foi muito alongada, ficando meio solta no propósito geral do roteiro. Provavelmente o objetivo foi mostrar o personagem de Winston Churchill e destilar o conhecimento do autor sobre cinema alemão. Além da participação especial do comediante Mike Mayers, claro. Tudo, a meu ver, desnecessário para a trama central.

Atuações medianas, porém acertadas de todo o elenco, em especial de Christoph Waltz que consegue cativar e chocar o público ao mesmo tempo com a genialidade e crueldade de seu personagem.

Em menor grau, o destaque é a francesa Mélanie Laurent pela frieza, fragilidade e força de sua Shosanna.

Ao contrário do que transparece, Brad Pitt não tem muito tempo de cena, o que é uma pena, pois seu personagem Aldo, cheio de sotaques e trejeitos lingüísticos, merecia um melhor aprofundamento por parte do roteiro.

Direção competente que constrói a tensão do roteiro em movimentos de câmera reveladores e nos planos detalhes de rostos e objetos importantes para a trama.
A cena em que um filme é projetado na fumaça ao fim de película é simplesmente magnífica.

Grande homenagem de Tarantino a filmes antigos ou um filme sobre o cinema, como diria o crítico Pablo Villaça (@pablovillaca) , editor do site CinemaemCena.

Grande trilha sonora com muitas músicas que remetem a clássicos do faroeste, o que já se tornou marca do autor, inclusive com canções de Ennio Morricone, grande compositor de trilhas para filmes de cowboy.

Apesar de se passar na 2ª. Guerra Mundial, não há preocupação nenhuma do autor em preservar a verdade histórica, a frase que inicia o filme e o final da pélicula deixam isso evidente, mas ele consegue entreter o público como ninguém.

Um bom filme, que não chega a ser o melhor da carreira de Tarantino, mas diverte bastante com seus diálogos tensos,  ação abrupta e trilha sonora instigadora.

Recomendado.

Valeu!

sábado, 16 de janeiro de 2010

Filme: 500 dias com ela (500 days of Summer)

Quem nunca fantasiou com o amor?

Alguns dizem que todos temos alguém certo pra encontrar, uma alma gêmea.
Outros dizem que não passa de um mito inventado para estimular a reprodução da nossa espécie.

São duas opiniões contraditórias, cada uma defendida por uma parte do casal do filme 500 dias com Ela (500 days of Summer, 2009) do diretor Marc Webb.

Roteirizado por Scott Neustadter e Michael H. Weber, o filme, conforme o título diz, conta a história dos 500 dias de uma paixão.

A chamada do cartaz do filme já resume bastante a história.
Rapaz encontra moça. Rapaz se apaixona. Moça não.

Tom Hansen (Joseph Gordon-Levitt) é um arquiteto frustrado que trabalha numa empresa que confecciona cartões de saudação (Natal, Aniversário e etc). Também é o rapaz que acredita piamente no amor. Summer Finn (Zoey Deschanel) é a assistente recém-contratada da firma que acha que o amor  não existe. Os dois se envolvem e se separam, mas acabam se aproximando novamente.

Não conto mais para não estragar, mas basta saber que o roteiro foi escrito de forma não-linear, ou seja, o início do filme não é necessariamente o início do romance entre os dois.
Eles já começam separados e através de uma amostragem aparentemente aleatória de dias - ou seja, indo do dia 290 até o 28, depois para o 240 e voltando ao dia 12 e assim por diante - vamos desvendando o que os levou até ali e principalmente como essa história poderá acabar.

Um tipo de montagem que subverte a expectativa do públicos de romances criando uma ótima surpresa. Você fica em dúvida até o último momento sobre o que vai acontecer.

O diretor abusa de recursos cinematográficos variados que deixam o filme bastante simpático ao ilustrar o olhar pessoal de Tom sobre sua trajetória com Summer.

Por exemplo, há o uso de um narrador que, apesar de não falar o tempo todo, pontua de maneira bem-humorada o início, o meio e o fim da trama, dando um toque de contos de fada ao filme, que é  contemporâneo até demais.

Outro exemplo é ao contar fatos do passado fazendo a tela diminuir, ficando na proporção de TV(4:3), e assumindo um tom documental em preto-e-branco, lembrando filmes educativos americanos da década de 50 e 60.

Um recurso utilizado competentemente é a tela dividida ao meio em três momentos do filme. O melhor deles é a seqüência que ilustra a ida de Tom a uma festa, mostrando sua expectativa de um lado e a realidade do outro. Com a realidade impiedosamente tomando a tela inteira no fim da seqüência. Poesia pura.
Destaque também para a sequência que mostra a tristeza de Tom indo ao cinema e se vendo atuando em cenas famosas de filmes da Nouvelle Vague (movimento de cineastas franceses dos anos 60), com direito a jogar xadrez com o cupido e tudo.

Não há do que reclamar dos atores. Joseph Gordon-Levitt, que ficou famoso por comédias de TV, está mais contido que de costume e até consegue convencer como sofredor apaixonado. Zoey Deschanel também está bem, mas podia estar mais expressiva.
O destaque mesmo fica para Chloe Moretz, que interpreta Rachel, a irmã mais nova de Tom. Com apenas 12 anos, ela acaba roubando todas as cenas em que aparece ao dar sérios conselhos sentimentais para tentar levantar a moral do irmão.

Um ponto importante que vale ressaltar é o título original, 500 days of Summer, que faz referência a personagem e também a uma das quatro estações, já que summer em inglês é verão. Numa tradução literal, o título seria 500 dias de verão. Isso também rende uma inesperada piada final ao filme. Coisas que se perdem na tradução.

Um filme de amor com uma trama meio comum, mas montada de forma excepcional e ilustrada com vários recursos que declaram o amor dos autores ao cinema e te fazem pensar que um filme pode sim, ser considerado poesia. Grande filme de estréia do diretor de videoclipes Marc Webb.

Recomendado.

Valeu!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Filme: Sherlock Holmes (2010)

Sherlock Holmes é o personagem criado pelo médico inglês Arthur Conan Doyle em 1887. Um detetive que ficou famoso por resolver casos na base da observação e dedução.

Podemos encontrá-lo em quatro romances e em uma diversidade de contos. Todos escritos por Doyle e publicados durante um intervalo de 40 anos.

Apesar de puramente mental, o personagem de Conan Doyle usava o método científico e muitas vezes experimentativo para trabalhar, o que pode ter dado origem a vários outros personagens em diversas mídias.

Alguns seriados de televisão famosos foram claramente inspirados pelo personagem. Dois inclusive fazem bastante sucesso atualmente.
Um deles, o mais direto, é Monk, um detetive obssessivo-compulsivo que faz deduções incríveis só pela observação.
O outro, menos direto, é House, um médico arrogante especialista em descobrir e tratar doenças raras, muitas vezes sem conhecer os pacientes.

É claro que o personagem já teve muitas adaptações fora da literatura (teatro, cinema e tv) e elas contribuíram aos poucos para a formação de uma imagem clássica do detetive.

Alto, magro, porte atlético, nariz comprido, chapéu de abas e sempre com um cachimbo curvado à mão. O problema é que algumas delas nunca foram citadas por Doyle nos escritos originais.
O filme atual, Sherlock Holmes, foi dirigido por Guy Ritchie e abandona algumas dessas características.


Sendo inspirado numa HQ escrita e desenhada por Lionel Wingram, o filme é a tentativa de revitalizar esse que é um dos personagens mais famosos da literatura, trazendo-o com muita ação a atitude ao século XXI.


Holmes (Robert Downey Jr) e seu parceiro, o médico John Watson (Jude Law), prendem Lord Blackwood (Mark Strong), que matava meninas por meio de rituais de magia negra, e alguns meses depois são obrigados a persegui-lo novamente após sua execução e misteriosa ressurreição.
Com a ajuda de Irene Adler (Rachel McAdams), a única mulher que conseguiu enganar Holmes duas vezes, e do burocrático inspetor Lestrade (Eddie Marsan), eles tem que recapturar Blackwood e desvendar sua ressurreição e conspiração que ameaçam a sanidade e segurança do povo inglês.

Robert Downey Jr. interpreta competentemente um Sherlock obstinado que usa seus casos, mistérios e tentativas de invenções para ocupar a mente inquieta. Quase como uma dependência química. Seu olhar arregalado e contemplativo diz muito sobre o personagem.

Jude Law faz um John Watson mais másculo encarnando um militar reformado, durão e companheiro. Ele consegue trabalhar bem as nuances da divisão do personagem entre a noiva e a emoção de suas aventuras ao lado de Holmes.

A relação entre os dois personagens é meio simbiótica. Estão acostumados a ter um ao outro por perto o que justifica a estranheza e certo ciúme que Holmes sente pela noiva de Watson.
Não há na película uma preocupação em apresentar a história anterior dos personagens. O roteiro aposta num conhecimento prévio do público pela figura mítica do detetive infalível para dar mais espaço a ação. Eles já começam o filme no meio da perseguição e aos poucos vamos conhecendo quem eles são.

Escolha acertada do diretor por economizar tempo para desenvolver a trama principal, mas por vezes o filme parece ter ação demais pra uma história de detetive.

Seqüências como a da luta perto de um navio no estaleiro, e a da armadilha no abatedouro, ficam meio soltas e quase desnecessárias em relação ao mistério central.

No meu entender, isso é feito de propósito para atrair um público maior que está acostumado a ir ao cinema ver destruições e explosões.

Destaque para a fotografia, figurinos e direção de arte que fizeram um bom trabalho na ambientação da Londres vitoriana. Apesar dela parecer escura demais em algumas cenas.

Ponto positivo também para a câmera subjetiva em que Holmes narra em câmera lenta como poderia nocautear sistematicamente o adversário. Um grande mergulho na mente do detetive que revela por dentro seu modo de pensar peculiar. Pena que isso só é feito em dois momentos do filme.


Grande destaque para o som da película.
A edição de som arrebentou, principalmente ao reproduzir a percepção sonora de Holmes em dois momentos: um no início, ao ter um tiro ricocheteado perto de seu ouvido, e outro depois da metade, ao tentar se recuperar de uma explosão.

A trilha sonora de Hans Zimmer também é muito boa. As músicas num tom folclórico irlandês, abusando de violinos e outros instrumentos nativos do norte da Europa, seguem direitinho tanto as seqüências de luta quanto as de suspense. Na sala que eu estive uma funcionária do cinema quase deu um show de dança com a música de subida dos créditos finais.
Outro ponto importante para os fãs é que, apesar de lutar contra um maquiavélico e astuto Lord Blackwood, o filme é pontuado por algumas intervenções do maior inimigo de Holmes na literatura, o Professor Moriarty. E, para quem conhece o personagem, isso acaba tirando um pouco da força de Blackwood como antagonista. Principalmente no fim com a promessa de embate entre Holmes e Moriarty, que não chega a mostrar o rosto, para um próximo filme.
Certeza de continuação.

Para não dar a impressão errada, existem sim as magníficas deduções de Holmes em vários momentos do filme, sendo a maior de todas no final, claro. Alguns críticos até já reclamaram que a explicação final de Holmes é muito mastigadinha e um tanto desnecessária, mas esquecem (ou ignoram) que isso também é feito em quase todas as histórias escritas por Arthur Conan Doyle.

Um filme que cumpre muito bem seu objetivo de atualizar Sherlock Holmes para o novo milênio, primando pela ação, apesar de vermos as deduções do detetive em vários momentos, com boas atuações dos personagens principais e com uma grande trilha sonora é o que esperar desse filme.

Recomendado.

E que venha Moriarty.

Valeu!
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