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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Filme: Tropa de Elite 2

“Os artistas usam a mentira para revelar a verdade, enquanto os políticos usam a mentira para escondê-la.”

É uma das (muitas) frases marcantes escritas por Alan Moore em uma de suas mais impactantes HQs, V de Vingança (que foi adaptada para o cinema em 2005), e também é a frase que me veio a cabeça ao fim da sessão de Tropa de Elite 2 (2010) do diretor José Padilha.

Dando seqüência ao violento, crítico e ótimo filme de 2007, cuja importância da mensagem foi sobrepujada pela polêmica do lançamento de uma cópia pirata meses antes da estréia oficial, este novo filme não deixa nada a dever ao original. Muito pelo contrário.

O capitão Nascimento (Wagner Moura) agora é coronel e comanda o BOPE (Batalhão de Operações Especiais da polícia militar do RJ). É então que , numa rebelião no presídio de segurança máxima Bangu 1, as coisas dão errado e Nascimento é demovido de seu posto. Apesar disso, ganha um cargo na segurança pública do estado e, por causa de pendências pessoais com um ativista de direitos humanos chamado Fraga (Irandhir Santos), demora a perceber que o verdadeiro mal que assola o Rio de Janeiro pode não ser os traficantes que combateu com tanto afinco esses anos todos, e sim os currais eleitorais de políticos corruptos controlados pelas milícias, como Fraga sempre fez questão de frisar. O problema é que até ele perceber isso pode ser tarde demais.

Além de Padilha e Moura, grande parte da equipe retornou para essa continuação e muito do sucesso do filme (que em pouco mais de uma semana em cartaz já levou 4 milhões de pessoas aos cinemas e arrecadou mais de 12 milhões de reais) com certeza se deve a isso. 

O roteiro, por exemplo, é do mesmo escritor do filme anterior, Bráulio Mantovani, baseado num argumento do próprio Padilha e de Rodrigo Pimentel, ex-capitão do BOPE, que também colaborou com primeiro filme e dividiu os créditos pelo livro Elite de Tropa. Dizem que o personagem de Nascimento, por exemplo, teria sido inspirado no próprio Pimentel. 

Enquanto o primeiro se passava em 1997, esse segundo filme mostra dois momentos distintos. O primeiro terço se passa em 2006, mostrando todo o problema ocorrido em Bangu 1 e suas conseqüências a curto prazo, enquanto que os outros dois terços mostram a formação das chamadas milícias (grupos formados por policiais, bombeiros e outros que intimidam moradores e monopolizam a venda de produtos em comunidades desfavorecidas) e o arco de amadurecimento pessoal do próprio Nascimento com mudanças radicais, embora muito bem pautadas e justificadas, em sua postura mostrada no filme original.

Mas não se engane com a frase acima, Nascimento ainda é um personagem sanguinário que se torna carismático devido a sua divisão entre o seu determinado senso de dever e justiça e os questionamentos sobre o que faz.

O que acontece aqui é o crescimento do personagem através de um confronto direto com a culpa, o que já esboçava indiretamente no primeiro filme através de seus ataques de pânico e conversas com psicólogos. 


Wagner Moura realmente dá um show, tanto nas expressões, quanto na impostação de voz e na postura do personagem que em certo ponto do filme fica claramente encurvada demonstrando seu cansaço.

O rapper André Ramiro, que interpreta o agora capitão André Matias, também retorna e, apesar de não ter tanto tempo de tela como no primeiro filme, consegue se sair muito bem para quem não tem formação de ator.

Destaque para Irandhir Santos, intérprete de Fraga, cuja emoção e a seriedade com que leva o personagem conseguem passar toda a nobreza de seus sentimentos. É o terceiro filme em que o ator tem papel de destaque esse ano (os outros foram comentados por mim aqui e aqui). E com personagens bem diferentes. Mais um ponto no crescimento desse que se revela um dos melhores e mais atuantes atores do cinema nacional da atualidade.

Vale ressaltar também a participação de André Mattos como Fortunato, um apresentador de TV cujo mote do programa é destacar crimes e ações policiais e que, por conta disso, acaba se elegendo deputado e virando um dos líderes da milícia combatida por Fraga e Nascimento. Quem é do Rio de Janeiro sem dúvida vai identificar a polêmica inspiração do personagem num apresentador real de um popular programa que costuma passar na hora do almoço na filial carioca da emissora de um bispo evangélico.

E ainda tem a volta de Milhem Cortez, como o impagável e corrupto Fábio, que, apesar de agora ser coronel, continua engraçado, cagão e imoral como sempre.

Parte técnica invejável, com seqüências de ação extremamente bem feitas e realistas filmadas em locações verdadeiras, com algumas sequências na própria sede do BOPE e com equipamentos reais do batalhão. 

A câmera firme e o olhar de José Padilha se estabelecem cada vez mais como uma das melhores da atualidade no Brasil. Resta saber se o diretor demonstraria talento se arriscando em filmes com outra temática que não violência e crítica social. Mas, mesmo assim, ele está ótimo onde está.

Uma grande crítica a formação política e policial brasileira com toques de violência embasados pelo arco de desenvolvimento pessoal do coronel Nascimento é o que esperar desse ótimo filme.

Aliás, a crítica política é tão contundente que já ouvi alguém dizer que se o filme estreasse antes das eleições desse ano teríamos uma avalanche de votos nulos nas mãos.

Seria interessante ver os políticos numa situação dessa afinal, citando Alan Moore e seu V de Vingança mais uma vez: "O povo não deve temer seu governo. O governo deve temer seu povo."

Recomendado!

Valeu!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Livro: Selva Brasil

Roberto de Sousa Causo é talvez o autor de ficção científica brasileiro mais atuante no meio de 20 anos pra cá, com vários livros publicados, sendo três romances, algumas novelas e histórias curtas e vários contos e ensaios dentro de fanzines, revistas de grande circulação e antologias famosas não só no Brasil, mas em mais de 10 países.

Em seu novo livro, Selva Brasil (112 pág., 2010) pela editora Draco, Causo trabalha com um gênero conhecido como história alternativa, que desenvolve tramas que tentam imaginar como teria sido a História de um lugar se uma determinada situação importante tivesse um desfecho diferente.

O momento escolhido aqui é 1962, ano em que o então presidente Jânio Quadros teria feito planos de invadir as Guianas por acreditar que o Brasil tinha direito histórico a boa parte de seus territórios. Tudo isso revelado num artigo publicado em 1993, após a morte do ex-presidente, em que um jornalista ainda diz que o exército brasileiro teria apoio da Argentina, que tentaria retomar o controle das ilhas Malvinas das mãos da Inglaterra.

Só pra constar: a chamada Guerra das Malvinas realmente aconteceu, inclusive com grandes perdas pro lado argentino (maiores detalhes aqui), mas a iniciativa de Janio nunca foi posta em prática.

A história do livro se passa exatamente em 1993, onde o próprio Causo é narrador e personagem de suas aventuras como sargento do exército numa guerra que já se estende por mais de 30 anos com mais perdas do que ganhos de território na Amazônia brasileira. Retratando o dia-a-dia de um pelotão numa guerra no meio da selva, Causo reconstrói a História brasileira a partir da iniciativa (dessa vez executada) de Jânio, além de reescrever sua própria história. 

A trama, muito bem narrada em primeira pessoa, consegue nos inserir com sucesso nas dificuldades passadas pelos soldados e acaba se tornando difícil de largar justamente pelo fato de tentar dar uma perspectiva brasileira a uma história de guerra. Devo admitir que foi bastante divertido ler nomes como Tadeu, Daniel e Carlos, além de termos como FUNAI, Itamarati, FAB e outros numa história desse tipo.

O texto ainda faz citações a Guimarães Rosa e Jorge Luis Borges e a trama acaba se desenvolvendo espetacularmente em algo que lembra uma mistura de Coração das Trevas de Joseph Conrad com a lenda do Experimento Filadélfia, um experimento militar secreto realizado com o navio de guerra americano USS Eldrige, já abordada em vários livros e filmes (e é mais detalhado aqui). 

Boa parte dos termos utilizados no livro vem da experiência pessoal do autor no exército e de uma extensa pesquisa sobre armas, plantas e geografia amazônica. O autor, que mora em São Paulo, ainda admite no posfácio sua fascinação por tudo que remete a maior floresta do mundo, falando também sobre algumas das várias histórias que já escreveu sobre a selva.

Um livro curto, de leitura fácil que dá uma aula de história ao mesmo tempo que diverte e surpreende pelo tempero brasileiro num suspense alternativo de ficção científica.

Ótima prova que o Brasil ainda é capaz de produzir bons autores que não desistem de dar uma cara reconhecível a ficção científica nacional.

Recomendado!

Valeu!

sábado, 2 de outubro de 2010

Quadrinhos: Muchacha

O novo álbum do cartunista Laerte pela Quadrinhos na Cia chama-se Muchacha (96 pág, 2010) e é uma compilação de tiras já publicadas anteriormente no jornal Folha de São Paulo.

Provavelmente a série diária com uma mesma história de maior duração do autor, Muchacha apresenta um programa de TV e seus bastidores num Brasil do ano de 1958, com direito a travestis, loucos internados, jornalistas oportunistas, taras não-convencionais, morcegos comunistas, propagandas politicamente incorretas e homens do futuro.

Capitão Tigre é um programa infantil sobre um espadachim mascarado que vive para salvar seu amor Sulfana das garras do tirano Rei Almedar e do traiçoeiro Milhafre.


Tudo começa quando o patrocinador do programa muda e exige incluir naves espaciais e alienígenas na história típica de capa-e-espada. Isso provoca um surto em Lairo Villa, o interprete do herói, que assume a identidade do personagem e provoca um grande rebuliço, gerando reações adversas em todo o elenco.


Laerte, que trabalhou muitos anos escrevendo pra TV e recentemente lançou um álbum sobre suas lembranças da telinha desde a infância, destila todo seu conhecimento de área nessa tira, fazendo questão de mostrar o lado sórdido, e muito mais interessante, dos bastidores de programas do tipo.

Exibindo um grande domínio da narrativa, Laerte divide a série em várias frentes, abordando não só o personagem principal, mas desenvolvendo personagens igualmente carismáticos como o ator injustiçado (e travesti) Djalma, o escritor mau-caráter Cabayba e o morcego de desenho animado Frederico, um estereótipo do que de pior se falava sobre o comunismo na época.

Definido pelo autor como um “Graphic-Folhetim”, Muchacha é uma grande homenagem a TV e retrata de forma bem legal os costumes da década de 50, com direito a citações e aparições de figuras ilustres da época como Ângela Maria, Elizete Cardoso e Ivon Curi. Sem falar nos trechos de músicas em espanhol que dão ritmo a algumas das tiras.

Vale ressaltar que é uma experiência bem diferente ler uma tira por dia separadamente do que lê-las de uma vez na seqüência do álbum. Enquanto que lendo diariamente podia existir uma dificuldade para o leitor se situar e até mesmo no entendimento de algumas viradas na trama, ao lê-as todas juntas se consegue perceber a maestria das escolhas narrativas do autor que consegue amarrar muito bem todas as pontas soltas e dar unidade a história.

Interessantíssimo trabalho do autor que conquista pelo ritmo de leitura ágil e consegue ser, ao mesmo tempo, sensual e inocente, além de muitíssimo bem estruturado.

Recomendado!

Valeu!

Quadrinhos: O que aconteceu ao homem mais rápido do mundo?

O que aconteceu ao homem mais rápido do mundo? (Whatever Happened to the World's Fastest Man?68 pág, 2010) é uma HQ inglesa independente bastante elogiada pela crítica internacional e publicada recentemente pela Gal Editora aqui no Brasil.

Uma história sobre heroísmo que termina com um grande questionamento sobre ações e suas conseqüências.

Bob Doyle é um rapaz inglês de 20 e poucos anos que tem o poder de parar o tempo. Mesmo não sendo um herói, ele não deixa de ajudar pessoas quando tem oportunidade.

Por causa disso, na mídia criou-se o mito da existência de um misterioso “homem mais rápido do mundo”. Sem interesse em fama ou reconhecimento, Bob continua vivendo sua vida normalmente quando um louco coloca num prédio do centro de Londres uma bomba cuja destruição pode matar milhares de pessoas nas redondezas. É aí que Bob decide salvar a todos, mesmo que para isso tenha que usar seus poderes a exaustão.

Fazendo uma comparação com o cinema, Bob é um herói do tipo relutante e inseguro que combina mais com o personagem de Bruce Willis em Corpo Fechado do que com o Homem-Aranha ou Batman, por exemplo.

Apesar da premissa de parar o tempo não ser algo tão novo em histórias em quadrinhos, a trama do criador e roteirista Dave West é muito bem montada contendo vários lances originais e questionamentos bem interessantes que evocam a identificação com o leitor sobre a natureza do heroísmo. Principalmente no final. 

Os desenhos e enquadramentos de Marleen Lowe são um bom contraponto ao roteiro, apesar de, na minha opinião, achar que o tom sério da história merecia um estilo menos cartunesco.

Mesmo assim, vale destacar que a solução encontrada pelos autores pra diferenciar o tempo real do tempo de Bob é interessante e bem executada.

O álbum ainda contém um prefácio redigido especialmente para o Brasil pelo autor, uma história curta com um episódio da infância de Bob e um texto do jornalista Maurício Muniz, editor da edição brasileira, sobre sua paixão por HQs e como utilizar o twitter para fazer contatos e novos amigos.

Uma história simples com questionamentos bem complexos que acaba se tornando gostosa de ler ao despertar dúvidas bem humanas e reconhecíveis em seu personagem principal.

Mesmo que você não goste de quadrinhos de super-heróis ou pessoas com poderes, pode vir a apreciar esta história.

Recomendado.

Valeu!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Filme: O Último Mestre do Ar

O novo filme do diretor e roteirista de O Sexto Sentido, Corpo fechado, Sinais, A vila, A Dama na Água e Fim do tempos tinha tudo pra dar certo. Tinha.

Assumindo a tarefa tripla de adaptar, roteirizar e dirigir já posso adiantar que ele errou feio nas duas primeiras, o que comprometeu definitivamente o filme.

O Último Mestre do Ar (The Last Airbender, 2010) é um  filme do diretor indiano M. Night Shyamalan que condensou 20 episódios do premiado desenho da Nickelodeon Avatar: a Lenda de Aang (do qual já falei aqui) em pouco menos de duas horas.

Num mundo dividido em quatro poderosas nações, existem pessoas que nascem com o dom de manipular um dos elementos da natureza (Ar, Água, Terra ou Fogo). Apenas uma pessoa em todo o mundo consegue dominar os quatro elementos, o Avatar.

Ponte de ligação entre o mundo dos homens e o espiritual, ele também é responsável por manter o equilíbrio entre as nações.

Só que há 100 anos ele desapareceu misteriosamente e hoje a nação do fogo empreende uma guerra pra expandir seus territórios e exterminar qualquer outro tipo de dominador que não seja de fogo.

É quando numa devastada tribo da água do Sul, um casal de irmãos, Sokka (Jackson Rathbone) e Katara (Nicola Peltz), descobrem um menino enterrado no gelo chamado Aang (Noah Ringer).
Logo ele é capturado pelo príncipe banido da nação do fogo Zuko (Dev Patel) e seu tio Iroh (Shaun Toub) que confirmam que ele é o dominador de ar destinado a ser o Avatar desaparecido há muito tempo. Caberá a Sokka e Katara salvá-lo e ajudá-lo estabelecer novamente o equilíbrio entre as nações.

PONTOS POSITIVOS:
  • Produção caprichada. Figurinos impecáveis. Linda fotografia. Bela trilha sonora.
  • Ao contrário das maldições jogadas na época da divulgação da escalação do elenco, todos os atores interpretam seus papéis competentemente, no ritmo que o filme está disposto a mostrar. Destaque para Dev Patel como um príncipe Zuko bem convincente em sua obsessão e tormento.
  • Edição perfeita, principalmente nas cenas de luta. Diferente dos filmes de ação mais recentes não há cortes bruscos nos confrontos, ou seja, você consegue visualizar e entender toda a evolução da cena. Por conta disso, é claro, nota dez também para as coreografias das lutas.

PONTOS NEGATIVOS:
  • O roteiro contém muita informação que foi condensada em pouquíssimo tempo (1h e 43min). Toda fala é importante. Se o espectador piscar, perde alguma coisa. Isso poderia ser resolvido facilmente se o diretor incluísse mais cenas de ligação, de passagem ou mesmo alívios cômicos que mostrassem o cotidiano dos personagens entre as revelações cruciais para a trama. Não é o que acontece.
  • Outro ponto negativo é o tom do filme. Muito sério e grave. Quase não há cenas leves e os personagens pouco sorriem. Pode parecer besteira, mas esse ponto é o que mais afasta o filme da série de tv e dificulta bastante a identificação com o público-fã da mesma e provavelmente afastará o público em geral. O próprio personagem-título Aang, que é bastante simpático e sorridente no desenho animado, só sorri praticamente umas três vezes, sendo uma um meio-sorriso de agradecimento e duas em recordações de seu treino.
Ironia do destino é pensar que um filme que tem o personagem-título buscando alcançar o equilíbrio consiga passar bem longe do mesmo. Falha da Nickelodeon por ter dado total controle da película a um diretor que só faz filmes de suspense, os quais costumam se levar a sério demais.


RESUMINDO

Visto que vem de uma série animada de grande sucesso de público e crítica que trabalha, com uma linguagem leve e sutil, temas importantes como amizade, espiritualismo, honra e até mesmo política, O Último Mestre do Ar é um filme que tinha tudo pra dar certo, mas naufraga horrivelmente ao tentar se levar muito a sério e se distanciar demais do desenho animado.

CONCLUSÃO

Melhor assistir o desenho animado.

Valeu!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Filme: Toy Story 3

A Pixar Animation conseguiu de novo.
Conseguiu encher salas de cinema de lágrimas e risadas na mesma medida.
Conseguiu também fechar com absoluto sucesso uma trilogia iniciada 15 anos atrás com seu primeiro filme em computação gráfica.

Isso mesmo, um dos melhores filmes de 2010 (até agora) é um desenho animado em computação gráfica.

Vá preparando seu lencinho e seu diafragma. Diversão e emoção garantida é o que esperar de Toy Story 3 (2010) que estreou esse mês nos cinemas do Brasil.

O garoto Andy (John Morris), dono dos brinquedos mais famosos do mundo, está com 17 anos e se prepara pra sair de casa e ir para a faculdade.
Decide guardar seus brinquedos no sótão, mas num engano de sua mãe, os brinquedos são jogados fora e vão parar na creche Sunnyside.
Caberá ao caubói de brinquedo Woody (Tom Hanks),  trazer o astronauta Buzz Lightyear (Tim Allen) e seus amigos de volta.

Como já é de praxe da Pixar, o roteiro aposta numa estrutura geral bastante simples, mas que surpreende na complexidade das situações evocadas em piadas, diálogos e cenas para emocionar. Com direito a interessar vários níveis de maturidade, desde os mais pequenos até os mais velhos.

Tudo muito bem pensado por toda a equipe de produção. Apesar do filme ser creditado com apenas quatro roteiristas: Michael Arndt, John Lasseter, Andrew Stanton e o diretor do filme Lee Unkrich.

Se você não viu ou não lembra dos filmes anteriores não tem problema. A abertura do filme diz tudo que você precisa saber sobre os brinquedos e seu dono, inclusive numa bela seqüência que mostra o crescimento do menino Andy registrado pela lente amadora da câmera de sua própria mãe. 

Bela maneira de apresentar os personagens e um prato cheio para criar identificação logo de cara com todos que tiveram uma infância imaginativa com brinquedos ou mesmo mães que registraram seus filhos crescendo.

A produção mostra um grande domínio da narrativa visual conseguindo com cortes rápidos, mudança de ângulos de câmera e trilha sonora incisiva, fazer a transição do clima infantil do filme para um episódio de terror e, posteriormente, para um drama de cadeia com os brinquedos como presidiários (com direito a cena com gaita e tudo).

Sobram também referências a cultura pop, como, por exemplo, o encontro da Barbie (Jodie Benson) com o Ken (Michael Keaton), além de um questionamento bem sutil sobre a sexualidade do boneco.

Poderia citar muitas sequências engraçadas ou emocionantes, mas não teria espaço nesse resenha para tanto e acabaria por estragar a surpresa pra quem pretende assistir o filme. 

Por causa disso destacarei apenas a engraçadíssima sequência de transformação do Sr. Cabeça de Batata (Don Rickles), onde ele finalmente mostra todo o seu potencial, na metade final da película.

Parte técnica e fotografias admiráveis, investindo em cores vibrantes e um belíssimo jogo de luzes, mostrando o esmero da produção. 

Há quem diga que o filme não evoluiu tecnicamente, mas isso é devido a escolha (muito bem) acertada dos produtores que, mesmo com toda a evolução de tecnologia de 15 anos pra cá, preferiram não mexer no desenho dos personagens mantendo assim um estilo próprio que dá identidade e torna homogênea a imagem dos três filmes.

A evolução da técnica é percebível sim, mas nos detalhes como cenários, luz, figurinos e cabelos, por exemplo. Todos trabalhados com técnicas bem modernas. Algumas desenvolvidas na própria Pixar.

A música composta por Randy Newman, que fez os três filmes, é um detalhe a parte. Com uma trilha instrumental orquestrada quase o tempo todo que acompanha e maximiza ações físicas e emoções dos personagens, lembrando desenhos clássicos da própria Disney e outros, como Tom e Jerry.

Um lindo filme que traz de volta personagens muito queridos e, disfarçado de história infantil, consegue abordar temas complexos como abandono, amadurecimento, amizade e desapego.


Difícil não se emocionar. Frases clichês como “Um filme pra toda a família que encantará crianças de todas as idades”, tem toda a razão de ser nesse filme.

Maldade da Pixar nos provocar tantas emoções em apenas uma hora e meia.

Mais um filme de sucesso para a lista deles que, como andam dizendo por aí, ainda não conseguiram fazer filme ruim. 

Recomendadíssimo!

Valeu!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Filme: Os Homens que Encaravam Cabras

Os Homens que Encaravam Cabras (The Men Who Stare at Goats, 2010) é o filme que adapta o livro de Jon Ronson (que já comentei aqui) para o cinema.

Apesar de levar o mesmo nome do livro, a produção e direção de Grant Heslov faz questão de frisar nos créditos que é apenas inspirado no livro.

Isso fica claro, pra quem leu o livro, por causa da criação de uma trama de ficção que leva ao Iraque pós-guerra onde houve mudança dos nomes ds envolvidos e criação de alguns personagens.

Bob Wilton (Ewan McGregor) é um jornalista americano de cidade de interior que nunca fez grandes reportagens e acaba de ser deixado pela mulher. Num ímpeto, decide ir ao Iraque logo após a captura de Saddam Hussein para provar que pode fazer grandes reportagens. Lá ele encontra Lyn Cassidy (George Clooney), um empreiteiro que havia sido citado por um de seus entrevistados recentes como um ex-soldado paranormal extremamente poderoso.
Acompanha Lyn em suas andanças pelo Iraque e ouve suas histórias sobre como ele foi treinado em seus poderes pelo exército americano no início dos anos 1980 e sobre o misterioso Laboratório de Cabras.

As lembranças de Lyn são contadas em paralelo a trama principal que se passa em 2003 e envolve as confusões que ele e Bob se metem na reconstrução de um país pós-guerra.

O roteiro, escrito por Peter Straughan, consegue ser fiel na adaptação do livro (que consiste só de histórias reais) principalmente nas lembranças de Lyn, ao mostrar a origem da unidade secreta motivada pelo manual de Jim Channon, que no filme recebeu o nome de Bill Django (interpretado por Jeff Bridges), após suas experiências no Vietnã.

Ainda faz boas referências a reconstrução do Iraque com críticas disfarçadas de episódios trágicômicos inspirados em histórias reais contadas por correspondentes de guerra. 

Uma delas é sequência de tiroteio entre mercenários e seguranças contratados que ocorre por engano num posto de gasolina numa cidade iraquiana. Coisas do pós-guerra.

A história, apesar do tom de comédia inspirado no livro original, consegue, da mesma forma que o original, passar realismo. Principalmente ao exibir personagens confiantes demais em suas próprias habilidades que acabam se tornando trágicos por viver num mundo em que essas habilidades não funcionam muito bem.

George Clooney mostra que não perdeu o tom de comédia impressionando com suas múltiplas expressões e olhar vidrado de alguém que todos considerariam louco. Ótimo ator.

Ewan McGregor faz o papel do jornalista (que também narra a história) e é claramente baseado no escritor Jon Ronson. Apesar de não ser empolgante, como o personagem de Clooney, faz um bom contraponto a ele não sendo caricato demais.

Também há as participações de Jeff Bridges e Kevin Spacey, ambos irretocáveis como, respectivamente, mentor e rival de Clooney nas memórias de seu personagem e cuja presença no fim do filme acaba sendo uma grata surpresa.

O diretor Grant Heslov, amigo de George Clooney e mais conhecido por atuar em papéis coadjuvantes no cinema e na TV, não decepciona como diretor, mostrando firmeza ao estabelecer o tom do filme, sabendo posicionar a câmera e acertando muito bem o tempo das piadas com planos e contra-planos reveladores.

Ótimo também foi o trabalho da produção ao transformar as locações no Novo México em cidades e desertos iraquianos com competência o suficiente para serem aproveitados nos belos planos abertos escolhidos pelo diretor de fotografia. Lindas paisagens desérticas.

Sem falar na trilha sonora bem sugestiva e empolgante que surpreende e faz rir em vários momentos.

Se for obrigado a citar algo decepcionante diria que na telona a comédia enfraquece a denúncia feita no livro original. Mesmo que no início do filme a frase “Há mais verdade nisso do que você acreditaria”, venha estampada em destaque soando quase como um mea culpa do diretor ao fim da película.

Um bom filme com um elenco bem talentoso (três ganhadores de OSCAR) que não decepciona e diverte bastante. 

Pena que, mesmo com um elenco estelar, foi subestimado nas estréias dos cinemas no Brasil, sendo assistido por pouquíssimas pessoas. Uma mostra de como um filme pode ser prejudicado se não houver divulgação. E esse vale a pena ser conferido.

Recomendado.

Valeu!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Filme: Kick-Ass - Quebrando Tudo

Todo leitor de quadrinhos já pensou em ser um super-herói.

Bom, talvez isso não se limite só aos leitores de quadrinhos. Provavelmente todas as pessoas já pensaram em ser super-heróis, isso num momento bem específico de suas vidas, claro.

Momento esse que geralmente acaba antes dos 10 anos de idade. Não é o caso dos personagens do divertidíssimo Kick-Ass – Quebrando Tudo (2010), que estréia nessa sexta-feira, 18 de junho, nos cinemas do Brasil.

Dirigido por Matthew Vaughn, o mesmo diretor de Stardust (que já comentei aqui), o filme é um ótimo apanhado de referências a filmes de super-heróis, sobrando ainda seqüências que homenageiam filmes de samurai e jogos de videogame.


Dave Lizewski (Aaron Johnson) é um típico nerd de 16 anos e ávido leitor de quadrinhos que, cansado de ser assaltado na volta da escola pra casa, decide fazer alguma coisa montando um uniforme e saindo pra combater o crime com o nome de Kick-Ass.
Acaba virando sensação ao lutar com alguns marginais e ter sua performance (completamente atrapalhada), filmada e jogada na Internet.
É então que a dupla Big Daddy (Nicolas Cage) e Hit Girl (Chloe Moretz) se inspiram nele e começam a matar mafiosos vestidos de super-heróis. E a culpa cai toda no pobre Kick-Ass.

Roteirizado pelo próprio Matthew Vaughn, com o auxílio de Jane Goldman, o filme é baseado numa idéia e argumento do escritor de quadrinhos Mark Millar, que também a adaptou para uma HQ que foi a sensação dos quadrinhos americanos em 2008, e que deve chegar esse mês as bancas brasileiras.

É a própria Jornada do Herói de Joseph Campbell adaptada a uma linguagem atual com narrações em off do personagem principal.

Que por sinal é muito bem desenvolvido pelo roteiro, assumindo um formato totalmente verossímil, ou seja, você acredita que poderia fazer o que ele faz.

Principalmente pelo fato da produção não poupar sangue e maquiagem pra ilustrar os ferimentos que ele sofre e as porradas que toma.

Apesar do final ser feliz, o filme faz questão de mostrar a realidade a que uma atitude louca como a de Dave pode levar, ou seja, não se pode ignorar uma cara quebrada (ou pior) de vez em quando.

Aaron Johson está muito bem caracterizado como Kick-Ass, um nerd que decide virar super-herói, e sua voz fina é um perfeito e engraçadíssimo contraponto às decisões loucas que toma.

Christopher Mintz-Plasse (o famoso McLovin do filme Superbad), também é um dos destaques do filme, demonstrando talento na passagem de filho-do-chefão-da-máfia-que-só-quer-ser-notado-pelo-pai a falso amigo do herói.

A participação de Nicolas Cage é pequena, mas muito marcante e bem executada, principalmente pelo fato dele não fazer as caras e bocas que costuma fazer em seus filmes. Sua imitação/homenagem a Adam West (o Batman do seriado dos anos 1960) quando coloca o uniforme é impagável. Dá até pra achar que ele ainda pode fazer bons papéis.

Mas a melhor mesmo ainda é Chloe Moretz, a lindinha da Hit Girl, numa personagem divertidíssima (ainda que fuja do realismo do filme) dona das melhores cenas de ação e das melhores falas.
Uma estrela em ascensão desde 500 dias com ela (do qual já falei aqui).
E olha que ela só tem 13 anos.

Copiando a estética de filmes e desenhos japoneses, o filme abusa da violência estilizada, mostrada em cores fortes e vibrantes em cenas recheadas de cortes rápidos como só os melhores filmes de ação podem proporcionar.

Destaque para a sequência da (tentativa) do pulo entre prédios (que remete ao filme do Homem-Aranha) e para o flashback do passado de Big Daddy e Hit Girl feita encima da renderização dos desenhos de John Romita Jr. , um dos melhores desenhistas da Marvel Comics, feitos para a HQ original.

E ainda tem uma seqüência inteira de homenagem a jogos de videogame de tiro. É quando a Hit Girl precisa resgatar seu pai e vemos parte do resgate pela visão dela só com a mãozinha na frente apertando o gatilho contra os mafiosos. Bem legal.

A trilha original é clássica e empolgante com passagens que lembram filmes como Homem-Aranha e Superman. E a trilha sonora ainda tem músicas impactantes e conhecidas tocadas em momentos de ação. Perfeitas pra empolgar o espectador.

Uma película que não custou nem 30 milhões de dólares (que levou dinheiro do próprio Matthew Vaugn), mas que proporciona diversão garantida pra fazer frente a filmes de mais de 100 milhões de dólares como Homem-Aranha e Batman

No geral um filme bem divertido, apesar de um pouco violento, mas que pode empolgar tanto adolescentes quanto adultos.

Recomendado!

Valeu!
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