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domingo, 21 de dezembro de 2008

Dica de Quadrinhos: Supremo, a história do ano

Depois de MoonShadow aproveito para postar mais um texto dando dica sobre quadrinhos.

Esse eu escrevi em 2006, mas dei uma atualizada antes de postar aqui.

Boa pedida pra quem gosta de super-heróis.

Supremo, a história do ano.
Comprei em dezembro/2005, numa banca aqui do RJ, uma caixa com as três edições da editora Brainstore por apenas R$49,90 (Tava R$89,90 no submarino).

Supremo é uma espécie de Super-homem do universo de heróis da editora Image Comics, uma rival das poderosas Marvel Comics (lar do Homem-aranha, Hulk, X-men e etc.) e DC Comics (lar de Batman, Superman, Liga da Justiça e etc.).

Só pra situar: a Image Comics foi formada no início dos anos 90 por desenhistas de sucesso insatisfeitos com o tratamento dado na Marvel e na DC. Depois disso, uma avalanche de novos personagens, quase todos copiados de outras editoras, invadiu as bancas e foi sucesso por um tempo (principalmente pelos desenhos), mas isso não durou muito. Logo, o público, e os donos da editora, é claro, perceberam que apenas bons desenhos não sustentavam as vendas.

Foi por causa disso que roteiristas profissionais foram chamados para tentar salvar as vendas dos personagens da editora.

O inglês Alan Moore, escritor de V de vingança, Do inferno, Watchmen e outros, foi um deles e nos presenteou com Supremo, a história do ano.

Supremo começou a atuar como Kid Supremo nos anos 30, cresceu (abandonando o título de Kid), fez muitos amigos e (mais ainda) inimigos, sofreu várias reformulações, mas ainda está na ativa hoje em dia.

A história começa quando Supremo acaba de voltar do espaço depois de uma longa viagem e encontra algo de errado com a realidade. Sem aviso, é abordado por quatro versões diferentes dele mesmo.

Entre elas: um rato gigante estilo Supermouse, uma sexy mulher negra com cabelo Black Power e o primeiro Supremo dos anos 40 (que só dava grandes saltos e não voava).

Por achar ser culpa deles a realidade estar estranha, Supremo os ataca e eles lutam por um breve período.
As versões acabam lhe convencendo a acompanha-los através de um portal.

Uma cidadela gigantesca os espera e Supremo descobre que o local é uma espécie de limbo pra onde iam todas as versões do Supremo e também de amigos, parceiros e mascotes do Supremo que já tinham tido sua chance e não faziam mais parte da cronologia atual do personagem.

Ele encontra desde cachorros e macacos Supremos até reis Supremos e Supremos alienígenas, além de todas as suas namoradinhas de infância, seus parceiros mirins e seus amigos repórteres que trabalharam com ele no rádio.

É claro que o Supremo atual não se lembra de nenhum daqueles, então lhe é explicado que ele obteve uma honra que nenhum Supremo jamais teve: visitar a dimensão Suprema antes de iniciar sua vida na cronologia atual.

Ele é saudado por todos os Supremos e então volta a Terra pra iniciar sua própria cronologia.

A partir desse início incomum (que só poderia ter saído da cabeça do Moore), Supremo assume seu novo emprego de desenhista de quadrinhos de super-herois (um campo ótimo pro Moore colocar suas opiniões sobre a mitologia e o mercado na boca de outros personagens) e visita locais de seu passado.

Cada vez que ele chega em algum lugar importante somos brindados com histórias inteiras do passado do Supremo (mudando inclusive o estilo do desenho pra um mais parecido com o dos anos 40, 50 ou 60) e assim ele vai recuperando sua memória aos poucos.

Velhos amigos reaparecem, Aliados voltam a ativa, parceiros mirins são reencontrados e antigos vilões ressurgem mais poderosos, porém com o mesmo ódio.

É nessa história que o personagem criado pelo infame desenhista (e dublê de roteirista) Rob Liefeld deixa de ser apenas um plágio para se tornar uma grande homenagem do escrito Alan Moore ao Homem de Aço ou simplesmente "a história definitiva do Super-Homem" como disseram alguns veículos de imprensa na época do lançamento.

A maioria dos personagens que já tiveram alguma importância na história do Homem de aço nesses 70 anos de existência tem suas versões nessa história do Supremo.

Até mesmo os nomes de personagens com consoantes duplas aparecem ali (é só ver seu arqui-inimigo Darius Dax, o gênio do crime, pra citar um dos exemplos).

Moore passeia com maestria por todos os clichês de histórias clássicas de super-heróis sem ser repetitivo ou previsível (tem até uma máquina do Darius Dax que transfere poderes!). Bem legal!

Em relação a edição da Brainstore: pra começo de conversa a impressão não tá muito boa. Os desenhos (na maioria feito por artistas seguidores do estilo musculoso dos anos 90) estão desfocados e borrados, o que dificulta um pouco a apreciação da revista.

Se o leitor conseguir superar esse detalhe a chance de se gostar da história é grande. (Também, é padrão Alan Moore de qualidade, né?)

Outra coisa: quem for comprar a revista pela capa esperando ver desenhos do quadrinista e pintor Alex Ross pode se decepcionar, pois além da capa, a única contribuição artística de Ross na revista são duas páginas de rascunhos pra um novo uniforme (que nem aparece na história) do personagem no final de cada edição.
Há pouco tempo a editora Devir lançou uma nova edição nacional de Supremo, a história do ano, inclusive com um quarto álbum escrito pelo Moore intitulado A Era Moderna (que a Brainstore não chegou a lançar), mas não vi nenhuma das novas edições ainda pra avaliar se a impressão melhorou. Espero que sim, pois a história merece.

Resumindo: Supremo de Alan Moore é uma ÓTIMA pedida pra quem é fã incondicional do gênero super-herói (com destaque pro Super-homem, é claro) e estiver disposto a ignorar alguns erros e decepções da edição da Brainstore pra apreciar as idéias, textos, homenagens e maluquices do escritor inglês Alan Moore.

Valeu!

sábado, 20 de dezembro de 2008

Dica de Quadrinhos: MoonShadow

Fim-de-ano logo aí, férias começando e o blog voltando.

Como já fazia um tempo que não escrevia nada aí vai uma dica de um dos meus quadrinhos preferidos e que marcou muito uma época da minha vida.

Numa época diferente da atual, em que os quadrinhos pintados eram visto com estranheza e uma série em 12 edições em formato americano era coisa difícil de se imaginar no Brasil, a editora Globo teva a coragem de lançar MoonShadow: Um conto de fadas para adultos nas bancas nacionais.

Escrita por J. M. DeMatteis e ilustrada por pintores do nível de Jon J. Muth, Kent Williams e George Pratt, essa série (lançada lá fora em 1985 e editada aqui em 1990) conta a história de vida do personagem título, desde antes de sua concepção até a perda de sua inocência, aos 16 anos.

Com grande influência da cultura hippie norte-americana (da qual a mãe de Moonshadow fez parte), refletida principalmente nos nomes de lugares e personagens, DeMatteis (que era conhecido até então pelo seu trabalho na Liga da Justiça em sua fase engraçada) arma a história do despertar de um menino para a fase adulta recheada de referências literárias, aventura, suspense, loucura, situações engraçadas, críticas a guerra, amor, morte, questionamento da própria existência e do lugar que cada um ocupa no universo e, enfim, tudo aquilo que nos acompanha na entrada para a maturidade.

Sob o ponto de vista de um Moonshadow há muito já adulto, começamos acompanhando a história de sua mãe, a hippie Sunflower, de como ela foi raptada, largada, casada, engravidada, e largada novamente pelos alienígenas G L'Doses, grandes bolas brilhantes e sorridentes sem nenhum propósito compreensível de existência, a não ser capricho, no auge dos protestos contra a guerra do Vietnã.

Nascido num lugar chamado de Zôo, onde viviam seres de várias outras raças também raptados e largados lá sem nenhum motivo aparente pelos caprichosos GL'Doses, o garoto cresce acompanhado pelo amor incondicional de sua mãe e tendo como únicos amigos: um gato preto chamado Frodo; um bicho, de origem desconhecida, peludo, mau-humorado, boca-suja e louco por sexo, conhecido como Ira (que lembra o primo It da Família Adams na aparência); e, a pedido de sua mãe, a maior e mais incrível biblioteca da Terra, único presente que recebera de seu sorridente pai desde de seu nascimento.

Ouvindo as histórias da mãe, se aventurando no meio de alienígenas pelo Zôo com Frodo, ocasionalmente sendo enxotado e xingado pela escolhida figura paterna de Ira (a quem amava apesar de tudo) e amando e devorando as histórias dos livros de sua biblioteca, Moonshadow se torna um adolescente sensível e sonhador.
Até que aos 14 anos, seu pai (a bola brilhante e sorridente) o expulsa do Zôo, junto com sua mãe, Frodo, Ira e uma nave especialmente preparada pra eles, sem nenhum motivo aparente.

É então que ele inicia, em sua próprias palavras: "sua jornada para o despertar", conhecendo a morte, a loucura, a guerra e o amor até sua entrada na vida adulta.

Quando comprei todas as doze edições juntas num sebo em 1997, admito que não dei muito crédito e só procurava algo pra fugir da espera pelas histórias do Super-Homem e dos X-men que demoravam um mês inteirinho pra continuar nas bancas. Foi só começar a ler pra ter aquela impressão de estar segurando ouro nas mãos.

Foi a melhor história que tinha lido até então.

É claro que isso já tem mais de dez anos e eu tinha praticamente a mesma idade de Moonshadow.

Tive que relê-la há pouco tempo pra poder detalhar melhor minha opinião e, principalmente, ver se ela continuava a mesma.O texto de DeMatteis, possui uma qualidade quase poética, como se fosse mesmo um conto de fadas (cada edição se inicia com a citação de um autor de lingua inglesa) e as pinturas dos quadros complementam muito bem a atmosfera da trama.

Em muitos momentos você sabe da história apenas pelo texto, tendo as ilustrações uma função só de contrapor a beleza estética-visual com a beleza da prosa poética como num livro infantil. Isso faz com que a narrativa em quadrinhos fique parada e sem vida em algumas ocasiões e esse é um dos poucos defeitos da obra.

Hoje percebo também que o texto se torna cansativo, conforme a história ruma para o final, mas nada que as belas imagens, a expectativa criada pela história e a simpatia pelos personagens não salvem.

Afinal, depois de uma jornada tão rica o final já não é mais tão importante quanto era no início.

Todos deveriam dar ao menos uma lida em Moonshadow, afinal, todos nós, no fundo, somos, seremos ou já fomos como ele um dia.

Valeu!
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