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quarta-feira, 5 de março de 2008

Dica de Quadrinhos: Samurai Executor

Acaba de ter a publicação concluída no Brasil esse mangá (quadrinho japonês) adulto de ótima qualidade.
Escrito por Kazuo Koike e desenhado por Goseki Kojima, a obra é uma espécie de forno de idéias para a narrativa de maior sucesso da dupla: Lobo Solitário.

Apesar de ter começado antes, Lobo Solitário (1970-1976) foi publicado quase que ao mesmo tempo que Yuki: Vingança na Neve (1972-1973) e Samurai Executor (1972-1976) e muitas das situações vividas pelos personagens tem paralelos nas três obras.

É claro que a grande diferença é que enquanto em Lobo Solitário há uma preocupação dos autores em se contar uma história maior dentro de cada um dos contos de cada volume, em Samurai Executor não existe uma linha de narrativa que levaria a um climax final como Lobo Solitário levou.

Posso concluir disso que Samurai Executor foi uma espécie de teste para a obra maior. Mas isso não tira seu brilho.

O personagem título é Asaemon Yamada Terceiro, um testador de espadas oficial do Xogum (líder militar supremo) no Japão do século XVIII (entre 1700 e 1800).

Logo no início do primeiro volume o pai de Asaemon recomenda o filho para substituí-lo em seu cargo de testador e executor de prisioneiros condenados por se considerar velho para a função. O superior encarregado aceita, mas não antes de marcar um teste para Asaemon no dia seguinte na prisão de Tenmâcho (uma das principais prisões de Tóquio).

Na noite de véspera o pai faz as últimas recomendações e profere as últimas lições para o filho, além de uma prova final: ele pede ao filho para executá-lo utilizando uma das técnicas de corte de carne ensinada e aperfeiçoada desde a primeira geração de testadores.

Asaemon hesita, e seu pai corta a própria barriga num ferimento irrecuperável, para obrigar ao filho a lhe dar uma morte rápida.

O primeiro conto termina com uma demonstração de inigualável habilidade de Asaemon ao cortar o próprio pai ao meio. Foi a primeira e única vez que Asaemon Yamada Terceiro chorou.

Nas histórias seguintes Asaemon assume seu cargo de testador de espadas oficial, assim como solidifica publicamente sua habilidade na função de executor de condenados na prisão de Tenmâcho.

A maioria dos contos na metade inicial da série (de 8 volumes) nos apresenta, de maneira forte, realista e bastante humana, aos criminosos e suas histórias pessoais e além de nos aprofundar nos conflitos do personagem principal, um forte seguidor das doutrinas budistas, porém responsável por tirar a sangue-frio a vida de várias pessoas por mês.

Os contos posteriores (na metade final da série) são mais focados na tentativa de Asaemon em entender o comportamento dos condenados na hora da morte (onde ficamos conhecendo mais motivações para os crimes da época), além de sermos apresentados a outro personagem: Kasajiro Sakane, um Jittemono (portador da arma Jitte) e espécie de policial da época, responsável por investigar, perseguir e prender criminosos.

Kasajiro é, assim como Asaemon, um obstinado a cumprir sua função, mas ao contrário do executor é um personagem mais leve e menos ligado com a morte, além de apresentar uma evolução bastante visível desde o primeiro conto em que aparece (no volume 4) até o último conto da série.

É provável que Kasajiro tenha sido uma espécie de alternativa encontrada pelo autor para conseguir uma identificação maior com público, afinal o jittemono é falho e está sempre querendo melhorar, ao contrário de Asaemon que já começa a série no auge de suas habilidades e num determinado momento da história parece perfeito, o que esgotaria a opção de conflitos narrativos.

E mesmo o personagem principal tendo a cena roubada por outro e alternar com ele os contos dos volumes finais, Samurai Executor ainda é um mangá muito acima da média.

Koike e Kojima pesquisaram detalhadamente as construções, profissões e costumes da época e a profundidade dos personagens me fazem ter a impressão de vê-los e ouvi-los vivendo, respirando e sangrando bem encima das páginas.

Até alguns eventos retratados na história (como a violenta rebelião na prisão) parecem retirados de registros históricos oficiais o que eleva ainda mais a importância de série.

E a narrativa de Koike faz com que alguns contos cheguem a ser até poéticos.

Mas atenção: disse lá no início do texto que é um mangá adulto portanto não se espante com algumas cenas de sexo, violência, cabeças cortadas e corpos decepados (afinal o cara é um executor), e até mesmo algumas aberrações sexuais e escatologias. Embora não seja nada tão explícito e gratuito como em algumas recentes produções Holywoodianas.

Eu mesmo cheguei a sonhar uma vez depois de ler um volume antes de pegar no sono. Não é recomendado para pessoas muito sensíveis.

Apesar disso é uma ótima opção de quadrinhos.

Afinal, a motivação de Asaemon como budista e executor é punir o crime e não as pessoas, na esperança sincera de que um dia pessoas como ele não precisem mais existir.

Valeu!
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